Exportadores de mel esperam que os Estados Unidos excluam os alimentos da taxa de 50% sobre importações brasileiras. Renato Azevedo, presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel), lembra que o produto é perecível e pode se perder caso não seja embarcado a tempo, e a “janela” de exportação está cada vez mais curta. Ele espera que os dois governos se sentem à mesa de negociações para discutir o impasse.
Nesta quinta-feira (17/7), representantes da Abemel se reuniram com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil). Executivos da Central de Cooperativas Apícolas do Semiárido Brasileiro (Casa Apis) também estiveram no encontro.
“Fui informado que a própria alfândega americana não recebeu nenhuma orientação para aplicar as tarifas. Estamos vivendo uma insegurança gerada pela falta de comunicação entre os próprios americanos”, diz Azevedo.
Em comunicado, o gerente de Agronegócios da Apex Brasil, Laudemir Müller, afirma que a instituição pretende mostrar a importância do mercado americano para o setor, composto, principalmente, por agricultores familiares. E, em paralelo, adotar “medidas internas” para reduzir os danos com o tarifaço, sem detalhar quais seriam.
“No que nos compete diretamente, vamos buscar alternativas de mercado. Um projeto junto ao setor para trabalharmos a promoção do mel brasileiro, especialmente o orgânico, em outros mercados”, diz Müller.
Ameaça de tarifa embaralha logística
Segundo Trump, a tarifa entra em vigor em 1º de agosto. O presidente da Abemel informa que os clientes americanos não cancelaram contratos, pelo menos até o momento, mas pediram interrupção de embarques. Toneladas do produto brasileiro ficaram retidas nos portos. Houve liberações pontuais, acertadas entre compradores e vendedores.
Um contrato para exportação é fechado de três a seis meses antes do embarque do mel. “Os importadores pediram para segurar, porque a condição mudou para eles também. O que precisam é garantir que essa mercadoria chegue antes do dia primeiro de agosto. Temos associados que já retiraram contêiner do porto”, conta.
Dos portos do Sul e Sudeste do Brasil, explica Azevedo, a viagem do mel rumo aos terminais da costa leste dos Estados Unidos leva cerca de 40 dias. São 15 a 20 dias a mais, em média, em comparação com a carga que sai do Nordeste do país.
Os Estados Unidos são o principal comprador do mel brasileiro. Nos últimos cinco anos, responderam por 76% das exportações. Em 2024, foram US$ 78 milhões, um crescimento de 16% em comparação com o ano anterior. Nos cálculos da Abemel, 53% da produção nacional a cada ano têm nos americanos os maiores compradores.
A associação não tem um cálculo fechado de eventuais perdas e custos adicionais com a tarifa. Mas, para dar uma ideia, Azevedo fez uma conta simples, a pedido da reportagem. Atualmente, o quilo do mel é enviado aos Estados Unidos por uma média de US$ 3,40. Aplicando os 50% de tarifa, o valor subiria para US$ 5,20 o quilo.
Sem alternativa
Redirecionar a carga dos Estados Unidos para outros mercados também é praticamente inviável, explica o presidente da Abemel. “Se pegarmos tudo o que a gente vê de mel no mercado, não dá o que exporta para os Estados Unidos. Se agregarmos esses 50% no custo, exportar fica inviável. Do ponto de vista econômico, não faz sentido”, ressalta o executivo.
O segundo maior comprador é a Alemanha, que absorve o equivalente a apenas 8% da produção brasileira.
“E temos um problema de produção. Praticamente tudo o que é produzido é comercializado. A não ser que a gente consiga aumentar a produção, é muito difícil combinar com o apicultor e vender a outros mercados”, comenta.
Expectativas
Azevedo afirma ter recebido de importadores a avaliação de que a tarifa pode não ser integralmente aplicada. Ele também diz acreditar nessa possibilidade, mas pontua que depende de como as discussões entre os governos brasileiro e americano devem se encaminhar até 1º de agosto.
“Eles [importadores] acreditam que [a tarifa] vai diminuir. Mas, se entra em vigor do dia 1º ao dia 5 e chega alguma carga, terão que pagar o preço cheio. E, depois, se cair [a tarifa], ficam estocados com produto mais caro”, diz.
O executivo avalia que o Brasil precisa conversar com os Estados Unidos de forma técnica. Considera importante colocar na mesa um eventual adiamento da cobrança, e conseguir mais prazo para negociar.