Os smartphones se tornaram dispositivos digitais praticamente onipresentes no mundo todo. No Brasil, por exemplo, dados da Pesquisa Anual do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada (FGVcia), apresentada em 2024, apontam que existem pelo menos 480 aparelhos no país (uma média de 2,2 dispositivos digitais por habitante).
O uso massivo dos atuais celulares, porém, pode desencadear alterações importantes nas mãos e nos punhos. Saiba mais sobre como identificar e evitar esses problemas.
Como o uso de celulares afeta as mãos
Segundo o ortopedista Luiz Mandarano, diretor da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (SBCM), o principal prejuízo provocado pelo uso exagerado de smartphones está relacionado às inflamações nos tendões.
“O problema mais frequente que aparece em função do uso excessivo de aparelhos eletrônicos, tablets, celulares, é a alteração inflamatória dos tendões, as tendinites e as tenossinovites”, explica.
Essas inflamações são resultado do uso contínuo e repetitivo dos dedos, que se movimentam para cima e para baixo (flexão e extensão) o tempo todo durante a digitação ou o uso de aplicativos. A fricção constante pode levar ao inchaço, dor local e até a dificuldades de movimento.
Dedo em gatilho e tendinite de De Quervain
Outra manifestação gerada pelo uso excessivo de celulares que merece atenção, alerta Mandarano, é o dedo em gatilho, na qual o dedo trava ao ser dobrado e pode até ficar preso nessa posição.
Existe ainda um quadro específico tenossinovite de chamada tenossinovite de De Quervain, uma inflamação na base do polegar, na lateral do punho. Ambos os quadros são causados por movimentos repetitivos e sobrecarga, especialmente no uso frequente dos polegares, como ao digitar mensagens longas.
“Os processos inflamatórios dos tendões que levam a dor no trajeto do tendão [são os mais comuns].”
Ainda que qualquer pessoa possa desenvolver esse tipo de dor, alguns grupos têm mais chances de apresentar sintomas precocemente. “Populações mais novas, as crianças e adolescentes que muitas vezes não têm uma estrutura osteomuscular já madura para aguentar uma sobrecarga, podem desenvolver um quadro de dor precocemente. E também os mais idosos, que já têm quadros degenerativos articulares, como as artroses”, afirma o especialista.
Como aliviar os sintomas e quando buscar ajuda médica
Em muitos casos, as alterações são reversíveis. Alongamentos simples dos dedos e do punho (como flexionar e estender as articulações com delicadeza) também podem trazer alívio.
Porém, nem sempre as medidas caseiras são suficientes. Quando a dor persiste mesmo após descanso, compressas ou uso de medicamentos comuns, é hora de procurar ajuda médica.
“É justamente naquela hora em que o quadro está se cronificando”, alerta Mandarano. Nesse caso, o ideal é consultar um ortopedista especializado em cirurgia da mão, que poderá avaliar a gravidade da inflamação e indicar o tratamento adequado.
Em situações mais graves, que não melhoram com fisioterapia ou medicamentos (normalmente analgésicos ou anti-inflamatórios), pode ser necessária até intervenção cirúrgica. “Via de regra, não é comum ser necessária [a cirurgia], mas pode acontecer”, reforça o especialista.
Dicas para prevenir dores nas mãos
A principal orientação é reduzir o tempo de uso do celular e evitar a digitação por longos períodos com os dois polegares. Essa prática tende a provocar dor com mais facilidade.
“A digitação com dois polegares realmente sobrecarrega a articulação denominada primeiro raio da mão (os polegares), o que aumenta a chance de eventos dolorosos e alterações inflamatórias”, diz Mandarano.
Nesse sentido, algumas dicas práticas são úteis para evitar inflamações na região:
- evitar ficar longos períodos com o aparelho nas mãos, principalmente em posição desconfortável;
- preferir o computador ou notebook quando for possível para digitar em um teclado maior e com o uso de todos os dedos, não sobrecarregando apenas um ou outro;
- trocar a mão de digitar ou a posição para reduzir a sobrecarga;
- evite flexionar demais o pescoço, mantendo o aparelho em uma altura confortável, para não forçar a coluna cervical;
- alongar-se durante o dia: faça pausas regulares para esticar os dedos, o punho e os braços.