O produtor pode controlar a floração natural do abacaxi para escolher quando deve colher os frutos visando conseguir melhores preços no mercado. Essa é a conclusão de uma pesquisa desenvolvida pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), que foi publicada na revista científica suíça Frontiers in Plant Science neste mês (julho).
A inovação permite que os produtores tenham mais domínio sobre o momento em que a planta floresce por meio da aplicação da aviglicina (AVG), uma substância que inibe a produção do etileno, hormônio responsável por induzir a floração.
Segundo a pesquisadora Sara Dousseau Arantes, a motivação para o estudo surgiu da necessidade de resolver um problema recorrente na produção de abacaxi no Espírito Santo: a floração natural desuniforme, que ocorre principalmente entre os meses de junho e agosto, e resulta em colheitas irregulares, aumento de custos e dificuldades no manejo da lavoura.
Além disso, como o abacaxi é uma fruta que não amadurece depois de colhida, a floração desordenada compromete a qualidade e o planejamento da produção.
Com a concentração da floração em julho e agosto, o abacaxi precisa ser colhido entre novembro e janeiro, período de maior oferta e queda nos preços pagos ao produtor.
A pesquisa foi desenvolvida em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), na Fazenda Experimental do Incaper em Sooretama, no norte do Estado, uma das principais regiões produtoras de abacaxi do Espírito Santo. Os experimentos utilizaram duas cultivares amplamente plantadas no território capixaba: o abacaxi pérola, tradicional entre os agricultores familiares e mais suscetível à fusariose, e o vitória, variedade desenvolvida pelo próprio Incaper, com resistência à doença.
Segundo Arantes, a aplicação da aviglicina, feita corretamente antes do inverno, tem se mostrado capaz de inibir até 80% da floração natural. “Com isso, o produtor pode realizar a indução artificial da floração no momento mais conveniente e programar a colheita em períodos mais vantajosos, como entre abril e junho, quando os preços da fruta costumam ser mais altos.”
Ela alerta, no entanto, para o uso da dose correta de AVG para controlar a floração sem comprometer o desenvolvimento das plantas ou a qualidade dos frutos. Doses maiores aumentaram o tempo de controle, mas também causaram fitotoxicidade, reduzindo o crescimento e a massa dos abacaxis.
Outro desafio para a aplicação da tecnologia é que a aviglicina não possui registro específico para a cultura do abacaxi no Brasil. Por isso, os agricultores precisam adquirir a substância na forma pura e preparar a solução para aplicação, o que exige conhecimento técnico de agrônomos ou técnicos agrícolas e atenção aos protocolos de segurança e eficácia.
Por enquanto, a tecnologia ainda não foi testada em áreas comerciais.
Segundo dados do IBGE, o país produziu, no ano de 2023, 1.591.595 mil abacaxis em uma área de pouco mais de 63 mil hectares, com um rendimento médio de 24,8 frutos/ha. O Pará lidera o ranking de produção, seguido por Paraíba, Minas Gerais, Tocantins, Rio de Janeiro e Pernambuco. Juntos, esses Estados produzem 80% dos abacaxis do país.