O aumento na frequência e na gravidade dos eventos climáticos extremos deixou de ser uma previsão pessimista sobre o futuro para se tornar parte dos desafios concretos das grandes cidades brasileiras. No setor elétrico, os impactos das mudanças climáticas exigem mudanças profundas. Antonio Scala, CEO da Enel Brasil, uma das principais empresas do setor elétrico brasileiro, discutiu o tema ao participar nesta terça-feira (8) do CNN Talks: “COP30 – Resiliência Climática: Regulação e Financiamento“, realizado em Brasília.
O evento, promovido pela CNN Brasil em parceria com a Agência iNFRA, reuniu autoridades públicas, representantes de agências reguladoras e lideranças empresariais para discutir como preparar o Brasil para os desafios que virão — e os que já estão aqui. A COP30, marcada para novembro, em Belém (PA), será a vitrine dessas soluções.
Scala compartilhou o que chamou de “virada operacional” da Enel Brasil frente à uma nova realidade em que o clima impõe desafios cada vez maiores à infraestrutura das cidades, incluindo as redes elétricas. Eventos extremos recentes, como os registrados em novembro de 2023 e outubro de 2024 em São Paulo trouxeram à tona novos desafios sobre como reagir de forma mais eficiente a impactos tão severos. A empresa adotou um plano com investimentos recordes na modernização das redes de suas três distribuidoras no país, nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará, revisitou seus processos operacionais, adotando novas medidas estruturais, e está contratando 5 mil novos eletricistas próprios para atendimento em campo. Entre 2025 e 2027, a Enel Brasil vai investir ao todo R$ 24 bilhões em distribuição de energia no país.
Os impactos positivos dessas mudanças já começaram a aparecer. No verão de 2024-2025 — um dos mais críticos para o setor, especialmente no Sudeste — a Enel registrou 35% mais ocorrências relacionadas a fatores externos, como quedas de árvores e descargas atmosféricas em São Paulo. Ainda assim, conseguiu reduzir em 50% o tempo médio de atendimento emergencial da distribuidora entre novembro de 2024 e março deste ano.
“Em vez de termos uma situação ainda mais desafiadora que a do ano anterior, o fato de termos essa maior prontidão nos permitiu reduzir de forma bastante expressiva esse indicador.”
Contratos antigos, desafios atuais
Scala também chamou atenção para o papel da regulação no estímulo à resiliência das redes elétricas. Segundo ele, os contratos de concessão em vigor hoje foram elaborados há mais de 30 anos, quando o foco era a expansão da eletrificação no país. Hoje, o contexto exige outra abordagem.
“A prioridade era universalizar o acesso à eletricidade no país com um custo mais baixo. O tema da resiliência climática não estava sobre a mesa”, afirmou. “Estamos falando de um setor que opera com contratos que foram feitos em outra realidade. Agora, precisamos de instrumentos regulatórios e econômicos que incentivem investimentos em resiliência.”
Para o CEO, é preciso que essas mudanças sejam regulamentadas com agilidade.
“Precisa de uma modernização forte. Agora estamos em um momento onde existe um debate para a renovação dos contratos de concessão. É uma oportunidade única para modernizar a estrutura contratual e gerar os incentivos econômicos de regulação para ir no caminho de investimentos de resiliência que o sistema agora precisa”, afirmou.
Ele também defendeu a ampliação da capacidade da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) para garantir a regulamentação dos novos contratos na área.
Debate para o futuro
O CNN Talks também contou com a participação de nomes como o governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, e representantes de órgãos como ANEEL, ANTT, Antaq, BNDES e Ministério de Minas e Energia.
Com mediação do jornalista Márcio Gomes, da CNN Brasil, e do diretor editorial em Brasília, Daniel Rittner, o evento debateu como o país pode se estruturar melhor para os impactos das mudanças climáticas — e como as agências reguladoras podem ser protagonistas nesse processo.
A menos de quatro meses da COP30, o encontro reforçou uma mensagem: o Brasil precisa modernizar seus marcos regulatórios e transformar experiências como a da Enel em política pública.