Nos últimos anos, uma expressão tem ganhado força nas conversas sobre saúde mental: ansiedade climática (também chamada de ecoansiedade). Diferente do medo pontual diante de um desastre natural, trata-se de um estado contínuo de preocupação com o futuro do planeta e as consequências das mudanças climáticas em nossas vidas. A raiz desse fenômeno não está apenas nos acontecimentos extremos, mas também na percepção de que um colapso ambiental é possível, ou até iminente.
Essa preocupação constante pode se traduzir em sentimentos como angústia, impotência, culpa e até tristeza profunda. Não é exagero, pesquisas recentes mostram que entre 49% e 59% da população global se declara muito preocupada com o clima, e essa apreensão muitas vezes interfere na vida cotidiana.
Ainda que não se configure como um transtorno mental definido, a ecoansiedade já é reconhecida como um alerta para os impactos emocionais da crise climática. E diferentemente da ansiedade sem objeto claro, ela tem uma origem concreta: o futuro ambiental ameaçado.
A origem do termo e sua definição
O termo “ecoansiedade” foi cunhado pelo filósofo Glenn Albrecht, que o definiu como um “medo crônico de destruição ambiental”; desde então, a expressão vem sendo adotada por psicólogos e organizações internacionais. Em 2017, a American Psychological Association listou o fenômeno como “medo crônico de catástrofe ambiental”. A literatura também costuma usar “ansiedade climática” como sinônimo de ecoansiedade.
Entre os sintomas mais comuns estão irritabilidade, insônia, dificuldade de concentração, perda de apetite e até crises de pânico, semelhantes aos de um transtorno de ansiedade generalizada. Esses efeitos podem se intensificar em pessoas mais sensíveis ou expostas diretamente a eventos climáticos extremos.

A ciência por trás do impacto emocional
Estudos apontam que a ecoansiedade não é apenas uma sensação subjetiva: ela pode prejudicar o funcionamento diário, o sono, e até agravar quadros depressivos ou de ansiedade generalizada.
Pesquisas realizadas com jovens universitários mostram que, quando a apreensão pelo clima interfere nas atividades cotidianas, os sintomas de depressão aumentam. Por outro lado, participar de ações coletivas em defesa do meio ambiente ajuda a reduzir essas reações negativas.
Além disso, dados internacionais revelam que a ansiedade climática está associada a um risco maior de perturbações como insônia, especialmente quando há foco excessivo em notícias dramáticas sobre clima. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já sinalizou a necessidade de servir a saúde mental como prioridade nos planos de adaptação climática.
Quem está mais vulnerável?
Não somos igualmente impactados pela ecoansiedade. Populações mais afetadas incluem:
- Jovens: especialmente os com até 25 anos, que expressam sentimentos de medo profundo sobre o futuro e relutância até em ter filhos;
- Comunidades tradicionais: como indígenas ou ribeirinhas, cuja subsistência depende diretamente da natureza;
- Grupos socioeconômicos vulneráveis: pessoas com menos acesso a recursos para lidar com desastres naturais;
- Pessoas com sensibilidade emocional ou histórico de ansiedade: elas já possuem condições predisponentes .
Essas diferenças de impacto exigem que as políticas de saúde mental considerem fatores como gênero, raça, renda e acesso aos serviços de apoio.
Manifestação no dia a dia
A ansiedade climática nem sempre se apresenta com sintomas intensos. Muitas vezes, é um mal-estar persistente que se manifesta em:
- preocupação constante ao acompanhar notícias sobre desmatamento, derretimento de geleiras ou políticas ambientais;
- evitação, quando a pessoa evita pensar ou falar sobre mudanças climáticas para fugir do desconforto;
- dificuldade de planejar o futuro, por medo do que vem pela frente;
- sentimentos somáticos, como tensão, insônia, dores musculares.

Como lidar: orientações práticas
Profissionais de saúde mental oferecem recomendações para lidar com a ansiedade que equilibram inteligência emocional e ação concreta:
- Equilíbrio na informação: informe-se, mas com moderação, combine notícias confiáveis com pausas conscientes do consumo de mídia;
- Ações coletivas: participar de grupos com objetivos climáticos concretos gera empoderamento e sentido coletivo;
- Rede de apoio: conversar com amigos, familiares ou participar de rodas de diálogo sobre clima ajuda a dissipar medos e promover acolhimento;
- Autocuidado: técnicas de respiração, ativação física e contato com a natureza são úteis para regular a ansiedade;
- Ajuda profissional: é essencial buscar psicólogos ou profissionais para obter um diagnóstico confiável e obter orientações sobre tratamentos.