A produção de cacau no Brasil ficou praticamente estável no primeiro semestre do ano. O volume de amêndoas recebidas pela indústria somou 58.188 toneladas, recuo de 0,3% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo levantamento do SindiDados – Campos Consultores, divulgado pela Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC). Em relação ao primeiro semestre de 2023, a queda é de 37,7%.
O impacto dos extremos climáticos, perdas para doenças como vassoura de bruxa e podridão parda e falta de mão de obra dificultam a recuperação da produção, mesmo com os preços internacionais em alta, segundo a AIPC.
Anna Paula Losi, presidente-executiva da AIPC, afirmou em nota que o país precisa superar dificuldades estruturais, com investimento em inovação, tecnologia com foco em produtividade e adoção de clones resistentes a pragas.
Queda na moagem
A moagem de cacau pelas indústrias totalizou 97.904 toneladas no primeiro semestre, o que representou queda de 14,4% em relação ao mesmo intervalo de 2024. Este foi o pior desempenho dos últimos nove anos.
“A retração na moagem não se dá apenas pela escassez de amêndoas. O alto custo da matéria-prima e o impacto nos preços dos derivados também têm limitado a demanda. O setor está sendo pressionado por todos os lados”, afirmou em nota a presidente-executiva.
A defasagem entre a produção nacional da amêndoa e a demanda da indústria foi de 39.716 toneladas, ou 40,6% da produção industrial. No primeiro semestre de 2024, o índice era de 48,9%.
Queda nos Estados
Em relação à produção, a Bahia manteve a liderança, com produção de 36.876 toneladas, embora a produção no Estado tenha caído 27,7% na comparação com o primeiro semestre de 2024. O desempenho foi afetado pelo clima adverso e por doenças fúngicas.
No Pará, a produção atingiu 15.658 toneladas, queda de 59,9% em relação ao primeiro semestre do ano passado, devido ao impacto das fortes chuvas nas lavouras.
A produção no Espírito Santo, por sua vez, encolheu 19,9% no primeiro semestre, para 4.725 toneladas. Já Rondônia registrou produção de 918 toneladas, queda de 30,2% no semestre.
Importações e exportações crescem
No primeiro semestre, as importações de cacau aumentaram 87,1%, para 42.143 toneladas de amêndoas. “Se não houver recuperação na produção brasileira no segundo semestre, continuaremos observando um aumento da importação”, afirmou a executiva.
As importações de derivados tiveram aumento de 20,4%, para 25.382 toneladas. As exportações de derivados também avançaram 27%, para 28.764 toneladas. A exportação de amêndoas, por sua vez, recuou 19,6%, para 78 toneladas.
Em valor, as exportações de derivados de cacau somaram US$ 319 milhões no primeiro semestre, alta de 71%, em relação ao mesmo período de 2024. O desempenho deve-se à manutenção da demanda externa, especialmente de países vizinhos da América do Sul, e à valorização dos preços internacionais do cacau.
A Argentina segue como principal destino das exportações brasileiras, com US$ 83 milhões no semestre, seguida por Estados Unidos (US$ 35 milhões), Chile (US$ 10,4 milhões) e Países Baixos (US$ 10,3 milhões).
De acordo com a AIPC, os números do primeiro semestre reforçam a preocupação com a estagnação da produção brasileira, mesmo diante de preços internacionais em alta e de um cenário favorável para investimentos na cadeia produtiva. A entidade segue confiante no potencial da cacauicultura nacional e acredita que, com medidas articuladas entre setor público e privado, é possível reverter esse quadro.
Mercado internacional
Os preços futuros do cacau seguiram em níveis historicamente elevados no primeiro semestre, sustentando o patamar atingido desde a disparada das cotações no início de 2024, segundo a consultoria Stonex. Os preços refletiram a expectativa para a oferta na temporada 2024/25, cuja recuperação inicialmente promissora perdeu força rapidamente no Oeste Africano.
“A frustração com o ritmo da colheita nesses países, responsáveis por cerca de 70% da oferta global, tem reforçado os temores de uma recuperação mais lenta da produção”, afirmou Lucca Bezzon, analista da StoneX.
Por outro lado, países produtores menores, como Equador e Indonésia, tiveram crescimento relevante no período. Além disso, a demanda global arrefeceu, pressionada pelos preços altos, o que ajudou a reduzir o desequilíbrio entre oferta e demanda. A StoneX projeta um leve superávit global para 2024/25, de outubro a novembro.
Com o encerramento da safra, em setembro, o foco se volta à temporada 2025/26, cujas entregas devem se intensificar a partir de outubro. O desenvolvimento das lavouras, iniciado em abril, contou com chuvas próximas à normalidade nas principais regiões produtoras. De acordo com a Stonex, se o clima se mantiver favorável, a próxima safra terá melhor desempenho.
A desaceleração da demanda ainda é uma incerteza. A imposição de tarifas de importação pelos Estados Unidos, um dos principais destinos do cacau e seus derivados, podem exercer pressão adicional sobre a demanda americana, impactando negativamente os dados globais de processamento.