A dor crônica em idosos não é uma consequência natural do envelhecimento, a contrário do que pode ser senso comum. À CNN, o geriatra Leonardo Oliva, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), explicou que pode ser perigoso associar velhice com dores e defendeu uma mudança urgente de mentalidade em relação à dor na terceira idade.
“Dor não é normal. Esse é um preconceito que chamamos de etarismo. Apesar de ser comum entre os idosos, ela não deve ser encarada como parte inevitável da velhice”, afirma Oliva.
Segundo ele, mais de um terço das pessoas acima dos 50 anos convive com algum tipo de dor crônica. As causas, no entanto, estão mais associadas ao acúmulo de doenças e desgastes do que à idade em si. Entre as principais estão as doenças osteoarticulares, como artrose e artrite, e doenças neurológicas, como neuropatias — com destaque para a neuropatia diabética. Cânceres também são uma importante fonte de dor crônica, especialmente quando há metástases ósseas.
Por que, então, a dor crônica é tão comum na terceira idade?
Com o tempo, o corpo é submetido a fatores que aumentam a probabilidade de dor. Além da maior exposição a traumas, sobrecarga mecânica e movimentos repetitivos ao longo da vida, há também a perda de reserva funcional.
“A nossa resiliência diminui com o envelhecimento. Diante de uma lesão, o corpo do idoso tem mais dificuldade de se recuperar, o que aumenta o risco da dor se tornar crônica”, explica o geriatra.
O tratamento da dor em idosos exige cuidado redobrado. Medicamentos comuns, como os anti-inflamatórios não hormonais (AINEs), devem ser evitados por causa dos riscos de sangramento gastrointestinal e comprometimento da função renal.
“Utilizamos analgésicos simples e, em casos mais intensos, opioides — sempre com muito cuidado. Medicamentos adjuvantes, como antidepressivos e anticonvulsivantes, também são opções. Mas o mais importante é que o tratamento seja global, e não focado apenas em remédios”, ressalta o especialista.
Fisioterapia, psicoterapia, especialmente a terapia cognitivo-comportamental, e outras abordagens complementares são recomendadas para reduzir a dor e melhorar a qualidade de vida do idoso.
Prevenção deve começar cedo
Para evitar a dor na terceira idade, a principal estratégia é a prevenção. E o melhor “remédio”, segundo o especialista, é a atividade física regular.
“Exercício físico é essencial — aeróbico, de resistência, alongamento, mobilidade. Ele previne uma série de doenças e reduz muito o risco de dores futuras”, afirma o presidente da SBGG.
Controlar doenças crônicas como diabetes, obesidade e condições reumatológicas, cuidar da saúde mental, dormir bem e manter vínculos sociais também são atitudes que ajudam a proteger o corpo contra o surgimento da dor crônica.