O cantor Murilo Huff, 29, entrou com um processo na Justiça para conseguir a guarda do único filho, Leo, de 5 anos, fruto do relacionamento com Marília Mendonça, que morreu em um acidente de avião em 2021. O artista atualmente divide a guarda da criança com a avó materna, a empresária Dona Ruth, 56, e requereu a guarda unilateral do menino.
O caso, que tem ganhado grande repercussão na mídia e nas redes sociais, levanta o debate sobre como a disputa judicial pode afetar a saúde mental dos envolvidos, incluindo a criança. Na terça-feira (1), João Gustavo, 23, irmão de Marília, usou as redes sociais para desabafar sobre a situação da mãe após a audiência da guarda de Leo.
“Estou passando aqui para pedir para vocês para pararem de fazer comentários maldosos. É um momento muito difícil, ela [Ruth] está muito mal e eu estou fazendo o máximo para ajudar. Só que está muito difícil porque ela já perdeu muita coisa e eu também”, disse chorando.
De acordo com a psicóloga clínica Tatiane Paula, a disputa pela guarda de uma criança ultrapassa a questão jurídica e toca em pontos importantes e sensíveis do emocional do adulto, principalmente dentro do papel parental.
“Quando os responsáveis entram em conflito sobre quem vai ficar com uma criança, o que está em jogo, muitas vezes, não é apenas a questão da guarda física, mas também sentimentos profundos de pertencimento, sensação de culpa, medo do afastamento e, até mesmo, a sensação de perda de identidade como pai e mãe”, afirma Tatiane à CNN.
A psicóloga explica, ainda, que a perda da guarda — em casos de disputa por guarda unilateral — pode acarretar um sentimento de luto. “É um tipo de luto invisível, mas bastante real, já que a pessoa perde a relação com o filho no cotidiano e a rotina afetiva”, analisa.
Além disso, segundo a especialista, a disputa pela guarda pode gerar distorções cognitivas de pensamento. “A pessoa pode pensar: ‘Se eu não tiver a guarda, eu sou um fracasso. Meu filho pode me esquecer’. Esse é um exemplo de distorção cognitiva que intensifica esse sofrimento emocional, podendo evoluir para quadros de ansiedade, depressão, exaustão emocional e até prejuízo no desempenho profissional”, afirma.
Impactos também são sentidos pelas crianças
Os impactos na saúde mental gerados pela disputa judicial pela guarda de uma criança não afetam apenas os responsáveis envolvidos, mas também os filhos, podendo levar ao desencadeamento de quadros como o Transtorno de Estresse Pós-Traumático, de acordo com a psicóloga Sirlene Ferreira.
“Todo estresse afeta a criança e o ambiente ao redor dela. Mesmo que os adultos tentem poupá-la dos detalhes, a criança percebe que algo está errado. Ela sente que os adultos estão chateados e, pior, entende que o motivo do conflito está relacionado a ela”, explica à CNN.
Os prejuízos à saúde mental da criança podem ser observados, principalmente, em casos de guarda compartilhada quando uma das partes não cumpre com as suas responsabilidades, sejam elas afetivas, emocionais ou práticas.
“A guarda compartilhada exige comprometimento de ambos os responsáveis. Quando há ausência de afeto, desorganização ou falta de presença real, a criança sente e pode ser prejudicada”, afirma Sirlene.
Como reduzir os impactos?
A comunicação e o diálogo aberto são fundamentais para reduzir os impactos emocionais durante uma disputa pela guarda de um filho. Quando necessário, é válido contar com a ajuda de um profissional capacitado para fazer a mediação familiar.
“A terapia cognitivo-comportamental ajuda o adulto envolvido nesse processo não só a reconhecer a situação problemática, mas a reestruturar pensamentos disfuncionais, ressignificando esse papel parental”, sugere Tatiane. “Outro ponto essencial é garantir que o vínculo com a criança continue sendo nutrido mesmo à distância”, completa.
Já para as crianças, é importante buscar estratégias para realizar a transição da guarda, se ocorrer, utilizando linguagem acessível para ela e contando, sempre que possível, com o apoio de uma psicóloga para acompanhar o processo.
“Se houver planejamento e acolhimento adequados, não necessariamente haverá sequelas. Mas, quando a transição ocorre sem preparo, as chances de a criança desenvolver transtornos psicológicos aumentam — como ansiedade, baixa autoestima e até mesmo o Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Nesses casos, a ajuda profissional é fundamental”, afirma Sirlene.