Irã e Israel, em guerra há vários dias, estão em uma região importante para o comércio internacional do agronegócio do Brasil. Em 2024, as exportações do setor para o Oriente Médio aumentaram 20,4% em relação ao ano anterior. Considerando apenas os dois países, os iranianos superam os israelenses em valores e quantidades comercializadas.
Comércio Brasil e Irã no agro
De acordo com dados do governo federal, as exportações do Brasil para o Irã somaram US$ 3,09 bilhões em 2024, sendo US$ 1,84 bilhão em produtos da agropecuária. Entre os principais itens exportados estão:
- Milho
- Soja
- Açúcar bruto
- Farelo de soja
- Óleo de soja
Nas importações, o Irã é um importante fornecedor de fertilizantes nitrogenados. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), foi o terceiro maior vendedor de ureia ao Brasil em 2024. De tudo o que o Irã exportou do insumo, 17% tiveram como destino as lavouras brasileiras. Chá, fumo e fibras também estão na pauta.
Comércio agrícola Brasil e Irã – 2024
Valor(US$) | Peso(Kg) | |
EXPORTAÇÃO | ||
Milho | 921.057.024 | 4.337.700.513 |
Farelo de Soja | 829.646.967 | 2.129.596.732 |
Soja em Grão | 826.536.571 | 1.835.779.049 |
Açúcar bruto | 418.991.725 | 861.954.041 |
Óleo de soja | 14.276 | 15.740 |
IMPORTAÇÃO | ||
Frutas (inclui nozes e castanhas) | 5.886.818 | 1.575.551 |
Fumo e seus produtos | 850.286 | 210.022 |
Fibras e produtoz têxteis | 74.937 | 11.485 |
Hortaliças, leguminosas, raízes e tubérculos | 45.859 | 11.025 |
Chá, mate e especiarias | 10.315 | 7 |
Couro e produtos de couro | 6.826 | 234 |
Cacau e produtos | 967 | 450 |
Sucos | 549 | 977 |
Fonte: Agrostat (Ministério da Agricultura)
Comércio Brasil e Irã no agro
O comércio do agro brasileiro com Israel é menor do que com o Irã. Em 2024, o país importou cerca de US$ 700 milhões em produtos brasileiros, segundo dados do Agrostat. A pauta de exportação do Brasil para o país tem entre os principais segmentos:
- Carnes
- Complexo Soja
- Cereais
- Café
- Produtos florestais
- Sucos
Apesar de representar um volume menor nas trocas comerciais, Israel mantém uma relação relevante com o Brasil no setor agropecuário. Desde 2023, passou a comprar carne de frango kosher — produto que exige abate e processamento conforme normas religiosas judaicas.
Comércio agropecuário Brasil e Israel – 2024
Setores | Valor (US$) | Volume (Kg) |
EXPORTAÇÃO | ||
Carnes | 173.228.210 | 34.015.065 |
Complexo Soja | 95.374.131 | 214.158.068 |
Cereais | 44.164.399 | 236.138.953 |
Café | 41.357.251 | 9.223.740 |
Produtos Florestais | 37.424.187 | 69.064.043 |
Sucos | 26.274.739 | 6.517.611 |
IMPORTAÇÃO | ||
Frutas (inclui nozes e castanhas) | 9.336.940 | 2.466.682 |
Complexo sucroalcooleiro | 4.182.993 | 2.230.569 |
Produtos florestais | 3.669.471 | 5.444.372 |
Fibras e Produtos têxteis | 263.714 | 76.530 |
Fonte: Agrostat (Ministério da Agricultura)
A relação bilateral entre Brasil e Israel, no entanto, vai além da compra e venda de produtos. A presença de empresas israelenses no agronegócio brasileiro é significativa, com destaque para a oferta de tecnologias para irrigação, agricultura de precisão e monitoramento remoto.
Por que o agro brasileiro deve ficar atento à guerra no Oriente Médio?
A escalada na guerra entre Israel e Irã provoca tensões no ambiente geopolítico e nos mercados internacionais. Para o agronegócio brasileiro, que tem negócios com os dois países, há diversas razões para ficar atento aos rumos do conflito e suas consequências.
Cerca de 30% das exportações brasileiras de carne de frango têm como destino países árabes e muçulmanos, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Esses mercados exigem certificação halal — que atesta o abate e o processamento de acordo com normas islâmicas. O Irã, que não é árabe, mas tem o islamismo como religião oficial, também adota a exigência.
Segundo analistas da StoneX, diante da escalada da tensão, qualquer posicionamento diplomático do Brasil que seja interpretado como parcial pode comprometer a confiança comercial com esses países. Isso coloca em risco contratos em andamento e embarques futuros, especialmente de produtos com exigência religiosa, como a carne de frango.
O aumento nos preços do petróleo pode, por um lado, elevar os preços de commodities agrícolas, e, de outro, aumentar custos de produção, com consequente pressão inflacionária.
É na região que está também s estreito de Ormuz, importante rota logística internacional. A depender de como a guerra atinja a região, há o risco de rompimento de cadeias logísticas de produtos importantes, com o próprio petróleo, e insumos agrícolas, como fertilizantes.