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Home Agricultura e Pecuária

A história da borracha que quase se apagou

Nativo do Brasil, produto foi alvo de biopirataria, e hoje o país representa apenas 2% da oferta global

Globo Rural por Globo Rural
14/06/2025
em Agricultura e Pecuária
Tempo de leitura: 18 minutos
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A história da borracha que quase se apagou
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Caracterizados como indígenas, os dois times tocam na bola de borracha com os quadris após o quique no chão, em uma tentativa de acertar o aro que fica pendurado como se fosse uma cesta de basquete vertical. A cada “gol”, os jogadores comemoram e voltam para defender seu aro do outro lado. A representação artística presente em parques e reservas indígenas tenta retratar a descoberta da borracha pelos missionários e exploradores na floresta tropical amazônica.

Os relatos históricos mostram que os indígenas da América já usavam a borracha para confecção da bola e também para sandálias, vasilhames, tochas e flechas. Em sua tese de doutorado “Navegar é preciso”, o economista Marcelo Souza Pereira narra que o jesuíta Samuel Fritz, que percorreu o Rio Solimões-Amazonas no século XVI e XVII, observou que o povo indígena omágua extraía um líquido branco e viscoso de uma árvore da floresta que, ao ser coagulado, se transformava em borracha.

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O líquido branco era o látex. O tipo mais puro, elástico e abundante era extraído da Hevea brasiliensis (“hevea” era o nome que os indígenas usavam para se referirem à árvore). Endêmica da Amazônia, a planta, que ficou conhecida como seringueira, atinge até 50 metros de altura e começa a produzir a matéria-prima da borracha quando completa sete anos. A vida produtiva se estende até por volta de 35 anos.

Entre 1870 e 1920, a árvore foi protagonista do ciclo econômico da borracha, que colocou a Região Norte brasileira no mapa econômico do mundo. O país era o principal fornecedor global do produto, quena época respondia por 25% das exportações brasileiras.

A borracha natural, que tem um concorrente sintético desde a Segunda Guerra Mundial, está presente em mais de 40.000 itens, como pneus, utensílios de cozinha, calçados, borrachas escolares, luvas cirúrgicas e preservativos, mas o Brasil responde hoje por menos de 2% da produção global, segundo a Associação Brasileira de Produtores e Beneficiadores de Borracha Natural (Abrabor). A Ásia concentra quase 90% do total.

O mundo só conheceu o látex em 1736, quando o francês Charles Marie de La Condamine enviou à Europa amostras de borracha. No entanto, o produto não fez sucesso nesse início, porque tudo que se produzia com ele cheirava mal, ficava mole e pegajoso quando exposto ao calor e se quebrava quando as temperaturas estavam baixas.

O grande marco de transição na história da borracha natural é o ano de 1839, quando o americano Charles Goodyear descobriu o processo de vulcanização: o inventor percebeu que, quando aquecido e misturado com enxofre, o produto fica mais durável e elástico. Com essa descoberta, a borracha ganhou estabilidade e ampla aceitação no mercado internacional.

E como o Brasil perdeu relevância na produção, apesar de a árvore que dá origem ao produto ser nativa da Amazônia? A história da produção, então restrita ao extrativismo na floresta amazônica, começou a mudar quando o botânico inglês Henry Wickham, que morava em Santarém (PA), conseguiu traficar 70.000 sementes da árvore em 1876 para o Jardim Botânico de Kew, em Londres, gerando um dos primeiros casos mundiais de biopirataria. Dali, após germinarem, as sementes seguiram para colônias inglesas na Ásia, onde se fez o plantio em grandes áreas.

Everton Rabelo Cordeiro, chefe da Embrapa Amazônia Ocidental, unidade da estatal em Manaus que se dedica ao estudo da seringueira, diz que, depois que a árvore saiu do Brasil, ainda foram necessários 30 anos para a produção na Ásia começar de fato. “Enquanto isso, os seringalistas brasileiros diziam: ‘Ninguém nunca vai achar nossas vacas leiteiras’.

Na primeira venda de borracha na bolsa de valores, no entanto, o preço caiu 30 vezes, visto que a produção na Ásia era muito mais barata. Na época, Manaus perdeu metade da população”, detalha.

O americano derrubou a mata nativa, plantou 4.000 hectares de seringueiras, construiu casas, contratou pessoas, mas sua “plantation” foidestruída antesde começar a produzir: ela sofreu com a doença do mal das folhas, causada pelo fungo Microcyclus ulei, que ataca em regiões úmidas. No terceiro ano de produção, as plantas começaram a morrer devido à ação do fungo.

“Por ser úmida e quente, a região amazônica é um prato cheio para a propagação do fungo, que ataca, na verdade, as folhas mais novas das seringueiras. Mas o que provocou a doença mesmo foi o sistema de plantio em monocultura, em que uma árvore fica muito perto da outra”, diz o chefe da unidade da Embrapa. Na floresta, ele explica, a população de seringueiras não passa de quatro indivíduos por hectare, mas Ford plantou 500 árvores por hectare.

Outro “respiro” da borracha na Amazônia aconteceu durante a Segunda Guerra Mundial, entre 1943 e 1945, quando o governo brasileiro recrutou milhares de trabalhadores do Nordeste do país para atuar na extração do látex, que serviria à fabricação de borracha natural para fornecimento aos Estados Unidos.

“Os ‘soldados da borracha’ foram atraídos com falsas promessas de bons pagamentos e condições de vida. Quando chegavam, recebiam um chapéu, uma poranga (instrumento para cortar a casca da árvore), uma faca e um quilo de sal. Só recebiam espingarda depois de um ano e pagavam por tudo isso. Sempre estavam devendo para o coronel. Muitos morreram na floresta comidos por onça, picados por cobra, de malária e até de fome”, relata Cordeiro.

São Paulo é, hoje, o maior produtor de borracha do país, com 64% do total. As seringueiras chegaram ao estado em 1915, quando José Procópio Ferraz, dono da Fazenda Santa Sofia, em Gavião Peixoto, pediu ao amigo Marechal Rondon que lhe enviasse sementes da árvore da Amazônia.

Na década de 1940, o governo federal começou a incentivar pesquisas em todo o país para expandir a área da heveicultura. O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e o governo paulista começaram, então, a buscar regiões de escape para a produção da borracha em monocultura, sem o mal das folhas.

Erinaldo José Scaloppi Jr., pesquisador e diretor do Centro de Seringueira e Sistemas Agroflorestais do IAC, em Votuporanga, conta que, após estudos climatológicos, identificou-se que a região noroeste do Estado era ideal para a heveicultura, por ter clima seco durante o inverno, quando a árvore perde suas folhas. Faltava no projeto paulista o melhoramento genético.

Com isso, o estado decidiu importar clones da Ásia, entre eles o RRIM 600. Desenvolvido pelo Rubber Research Institute da Malásia, o clone chegou a São Paulo em 1951 e é, até hoje, o mais plantado no país.

Ao longo dos anos, o IAC desenvolveu uma série de materiais. Atualmente, há 31 cultivares registradas, com destaque para os clones mais novos das séries 400e 500. Scaloppi diz que o instituto desenvolveu esses materiais para aumentar a produtividade da seringueira e sua resistência a doenças e a mudanças climáticas.

Dos 420 hectares do Centro de Seringueira do IAC em Votuporanga, 40 hectares têm seringueiras, que servem para testes; há mais de 1.000 clones nesses estudos. Os materiais genéticos aprovados seguem para os viveiristas, que farão a multiplicação.

Segundo o pesquisador, em um intervalo de 11 anos de produção, o clone IAC 502 teve produtividade 74% superior à do RRIM 600, utilizado como testemunha, e os outros clones da série 500 foram pelo menos 37% superiores ao clone asiático. Além disso, o 502 pode produzir a partir dos quatro anos de vida.

A transferência de tecnologia é um desafio importante da atividade, uma vez que a cultura é perene e exige um investimento alto. O custo de implantação de um seringal é de pouco mais de R$ 44.000 por hectare, de acordo com o Instituto de Economia Agrícola (IEA).

Além de recomendar a adoção dos novos clones, Scaloppi diz que o instituto propõe aos produtores um plantio em consórcio com outras culturas, como o cacau, um modelo que gera benefícios agronômicos, econômicos e ambientais. Em seu sítio, em Álvares Florence, o descendente de japoneses Rubens Kaneo adotou o consórcio em 16 hectares.

Kaneo, que tem como negócio principal a Valfran, uma indústria de troncos e balanças para pecuária, e também confina gado de corte, já plantava seringueiras em outras propriedades desde 1995.

Ele conta que, em 2009, viajou a Colniza, em Mato Grosso, especialmente para conhecer a seringueira nativa, e se apaixonou ainda mais pela cultura. Há cinco anos, o produtor decidiu adotar o consórcio e plantou 7.700 seringueiras em fila dupla, 12.000 pés de cacau e 20.000 pés de banana, tudo com irrigação.

“Plantei seringueira nesse sítio para aproveitar as 500 toneladas anuais de resíduo orgânico do confinamento e escolhi o cacau e a banana para gerar renda antes de começar a sangrar a seringueira. Eu também pensava em aproveitar a mão de obra na entressafra da borracha, mas estou sentindo que não vai dar certo, porque o seringueiro não mostra interesse em trabalhar com o cacau”, afirma.

A renda do primeiro ano de produção da banana, diz o gerente agropecuário do grupo Valfran, Hugo Preti, já pagou o investimento nas mudas e o projeto de irrigação no sítio. “Nenhuma atividade gera tanta renda por hectare como a seringueira. É uma cultura muito boa para a agricultura familiar”, destaca o produtor, que estuda também aproveitar a seringueira em projetos de recuperação de áreas de reserva legal na região.

Na maioria das fazendas paulistas, a sangria do látex ocorre geralmente de madrugada, a fim de que seja possível aproveitar o período mais fresco e produtivo da árvore, e se coagula o material na caneca com a adição de vinagre. Os parceiros moram nas propriedades dos produtores sem pagar aluguel, água ou luz e recebem de 35% a 50% do volume extraído, a depender do acordo firmado.

Carolina Lima e a mãe, Liane Lima Pinto, ambas advogadas e de família de pecuaristas, entraram na heveicultura em 2008. Primeiro, Liane plantou 5.000 árvores na fazenda de gado da família em Nova Granada como uma opção de aposentadoria. Um ano depois, a filha comprou uma área e também iniciou o plantio, que foi aumentando ano a ano. Atualmente, elas cultivam 38.000 árvores, com uma produtividade de até oito quilos por árvore, mas enfrentam escassez de sangradores.

Em Tanabi, o ex-bancário Reginaldo Castrequini também iniciou o plantio de seringueiras como há 20 anos e plantou 15 hectares no sítio em que criava gado. “Na maioria dos anos, o preço não cobre os custos, e falta gente para trabalhar. Estou com muitas árvores sem produzir por causa disso, mas não tenho como arrancar, porque o custo da erradicação é muito alto. O jeito é ir levando e torcendo para melhorar” afirma.

Carina Ayres, filha de Valentin Ayres, um dos pioneiros da heveicultura no noroeste paulista, cultiva 76.000 seringueiras em duas fazendas em Tanabi e Mendonça. Ela também é dona do viveiro Citrosol, de mudas pré-brotadas de cana, e ocupa o cargo de secretária da Agricultura em Rio Preto.

Em suas fazendas, os seringueiros ganham 50% e não trabalham de madrugada. “Não recomendo a eles sangrar (a seringueira) de madrugada porque, nesse horário, eles ficam mais vulneráveis a acidentes com animais como cobras e até onças, mesmo usando caneleiras e botas”, conta.

Leandro Medalha Melegati, produtor da segunda geração da borracha em Álvares Florence, conta que o pai e o tio começaram a plantar na região em 1984. Hoje, ele administra 16.000 árvores, sendo 7.500 em produção. O negócio dele tem uma rentabilidade maior porque 70% da sua produção é de látex líquido, sem coagular. Em vez de pneus, o látex líquido destina-se à fabricação de luvas e preservativos, entre outros produtos, que têm valor agregado maior.

Fernando Guerra, diretor-executivo da Associação Brasileira de Produtores e Beneficiadores de Borracha Natural (Abrabor), tem a matéria-prima no sangue: seu bisavô, Eugenio do Val, foi um dos pioneiros em São Paulo. “Meu avô dizia que borracha tinha mercado até em tempo de guerra e sempre repetia: ‘Você já viu avião ou jipe sem pneu?’”, recorda Guerra.

Problemas com falta de mão de obra, queda do preço da borracha, idade avançada das árvores, custo da terra e pressão da cana-de-açúcar fizeram a área da heveicultura diminuir em São Paulo nos últimos anos. Na safra 2023/24, a queda foi de 12,2% em relação ao período anterior, para 120.000 hectares, segundo o IEA. Associações do segmento calculam que cerca de 30% dos seringais paulistas estão sem sangria por falta de mão de obra.

Fábio Magrini é presidente da Associação Paulista dos Produtores e Beneficiadores de Borracha Natural (Apabor), a mais antiga entidade do setor, fundada há 33 anos, em São José do Rio Preto. Ele explora 30.000 árvores em Monte Aprazível e Sud Mennucci.

Uma parte ele herdou do pai, que trocou o café pela seringueira em 1963 e fazia o beneficiamento artesanal da borracha na própria fazenda. Assim como outros produtores, Magrini diz que o maior desafio é a escassez de trabalhadores para a sangria. A atividade demanda muita gente e é 100% manual.

Há pesquisas na Ásia e também no interior paulista para o desenvolvimento de robôs para que eles façam o trabalho, mas o custo ainda é proibitivo.

Os sangradores, muitos “importados” de outras regiões do país, precisam de capacitação para aprender como fazer a sangria sem danificar a árvore, o que ocorre quando se faz o corte com profundidade ou espessura incorretas (isso pode limitar a vida útil da planta). Já foi desenvolvida uma faca elétrica para facilitar a tarefa, mas ainda se utiliza pouco o produto.

Na safra atual, o preço pago pelo produto é o mais alto dos últimos dez anos: o valor chegou a R$ 7 o quilo do coágulo no início da safra, que vai de setembro a julho, em virtude da escassez de oferta, mas já caiu para menos de R$ 6.

Os parceiros estão ganhando R$ 5.000 por mês na safra, em média, mas alguns chegam a receber até R$ 10.000, a depender da produtividade e do teor de borracha seca (dry rubber content, ou DRC) que é apurado na usina. Nos dois meses de entressafra, no entanto, eles não recebem nada.

A borracha é commodity, uma matéria-prima básica, e seu preço é determinado pelas indústrias de pneus, que consomem cerca de 90% da borracha natural. “Os preços ficaram muito baixos nos últimos três anos, e isso levou a um grande êxodo de mão de obra, que não volta mais para o campo. Um terço dos seringais da nossa região deixou de produzir por essa razão”, diz José João Auad, presidente da Apotex Brasil, entidade que nasceu há 15 anos e reúne produtores e sangradores.

Auad, que mantém 50.000 seringueiras na região de Tupã, diz que o mercado é cruel com o heveicultor, que precisa esperar de oito a dez anos para começar a ter algum ganho, o que o torna refém das usinas de beneficiamento e da indústria de pneus.

“O Brasil só produz cerca de 40% do que consome, e não há estímulos ao aumento de produção. Ao contrário. A indústria não observa que o produtor brasileiro segue uma das regras ambientais mais rígidas do mundo. O discurso de valorizar a parte ambiental e social da cultura, que é a que mais emprega e fixa o trabalhador no campo, é bonito, mas a indústria vai buscar a borracha em países da Ásia que têm regime análogo à escravidão”, critica o dirigente. Procurada pela Globo Rural, a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip) respondeu que não iria comentar sobre o assunto.

Antonio Carlos Gerin, um engenheiro civil que ingressou na heveicultura em 1999 pensando também na aposentadoria, é o atual presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Borracha Natural do Ministério da Agricultura. Ele plantou 120.000 árvores em 250 hectares em União de Minas, no Triângulo Mineiro, com a intenção de aumentar para 300 hectares, mas viveu anos de preços muito baixos e desistiu de investir.

“A seringueira é como se fosse uma vaca leiteira e tem duas armadilhas. Se eu não sangrar hoje, amanhã ela não dá o dobro. Ao contrário, pode dar menos ou nada. A segunda armadilha é sangrar a qualquer preço porque há pouquíssimos compradores para o coágulo. A borracha só passa a ter valor depois do beneficiamento”, explica.

A salvação da lavoura, acredita Gerin, pode vir de Brasília. Segundo ele, Guilherme Campos, secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, está tentando formar uma comissão interministerial para fazer o gerenciamento da cadeia da borracha, com contratos entre produtor, usina e indústria.

Fábio Tonus, diretor-executivo da Apabor, diz que faltam políticas públicas para incentivo à produção de borracha natural, que é produto estratégico para qualquer país.

Na pandemia, por exemplo, faltou borracha para os pneus de tratores, ele conta.Tonus cita ainda que seria necessário ter linhas de financiamento para novos plantios com mais tecnologia e pagamento só após o início da sangria, como ocorreu no período de expansão da cultura em São Paulo.

Além disso, a importação de pneus da China, que explodiu nos últimos três anos e chegou a mais de 68.000 unidades (67% acima da média) em 2024, só deveria ser permitida após o escoamento da produção da borracha brasileira.

Atualmente, com 275.000 hectares de área plantada, ou 0,4% da área agrícola brasileira, a produção anual é de cerca de 270.000 toneladas de borracha seca para um consumo duas vezes maior. A previsão é de uma demanda mundial crescente pela borracha natural e de bons preços nos próximos cinco anos.

Em 2015, uma lei estadual que proibiu o comércio de mudas de seringueiras plantadas no chão, alegando falta de sanidade, diz a Apabor, também dificultou novos plantios em São Paulo. Passou a ser permitida apenas a venda de mudas em substratos. “Essa lei (que foi suspensa em 2021) atrasou a cultura por uns cinco anos. Travou tudo, e a seringueira se expandiu para Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas, que não tinham essa limitação”, diz Tonus.

A produtora Cynira Rossini, viveirista de seringueira em Votuporanga, diz que “sobreviveu aos trancos e barrancos” no período do apagão de mudas. Ela conta que plantava laranja em seu sítio de 15 hectares, mas um calote em 2015 a levou a deixar os citros. “Tive que plantar mudas de seringueira para pagar as contas.”

No ano passado, ela vendeu 40.000 mudas para produtores de todo o país. Neste ano, ela acredita que a demanda vai cair pela metade, pois o preço da muda acompanha o valor da borracha. Atualmente, tem um cinturão de 800 árvores de cinco anos já em produção que ela mesma sangra de madrugada.

Diferentes realidades entre as regiões

Diferentemente do perfil de São Paulo, onde a maioria das propriedades é de porte pequeno ou médio, a produção goiana é do tipo empresarial, com grandes plantações e contratação por regime CLT. Desde o início, os produtores adotaram novos clones e focaram a gestão da qualidade da sangria.

Em Mato Grosso do Sul, também há plantios empresariais de seringueiras. Fernando Guerra, o bisneto do pioneiro de Colina, arrenda com vários sócios terras com árvores em produção. Há três anos, eles criaram o Projeto Cassibor em Cassilândia, com 5.000 hectares de seringueiras.

Os coágulos serão transportados para beneficiamento em usinas de São Paulo, mas o grupo tem planos de fundar a primeira usina em Mato Grosso do Sul. O regime de trabalho no estado é metade parceria e metade CLT, com tendência de virar tudo para o registro em carteira.

Atualmente, os Estados nativos da borracha na Amazônia não chegam a produzir nem 1% do produto nacional. Cordeiro, da Embrapa, diz que o berço da borracha permanece com o sistema quase 100% extrativista e a produção dos ribeirinhos, extremamente baixa, está associada à subvenção, com o objetivo de manter os povos na floresta.

A unidade da Michelin no Estado compra cerca de 2.000 toneladas da borracha das comunidades, pagando R$ 14 por quilo ao seringueiro, com financiamento da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). Sem usinas de beneficiamento, o coágulo vai para a Bahia e volta para a transformação na indústria no Amazonas.

“Se fosse extraída a produção da floresta, seriam produzidas 40.000 toneladas por ano, volume de 100 anos atrás e mais do que suficiente para atender a Michelin e outra fábrica que vai ser instalada no Amazonas”, diz Cordeiro.

Segundo ele, a cultura na região enfrenta ainda o envelhecimento do seringueiro, o êxodo rural e talvez o fim da tradição da sangria, já que caminhar na floresta atrás do látex é uma atividade penosa e perigosa que não atrai os jovens.

Com faca na mão, botas nos pés, caneleiras nas pernas e lanterna na cabeça, o casal Anisio Pinheiro e Carla Fernanda inicia a sangria de seringueiras às 2h no sítio do médico Eduardo Silva, em Cosmorama. O filho Isaac, de 6 anos, os acompanha na roça para não ficar sozinho em casa e dorme no carro. O trabalho segue até as 7h. À tarde, eles recolhem os coágulos.

Anísio, um ex-operador de colheitadeira, e Carla, que trabalhava no comércio, cuidam de 6.000 árvores no sistema de parceria agrícola. “Todo mês nós guardamos uma parte do dinheiro para a entressafra. Na usina, ele ganhava R$ 3.000 e eu, R$ 2.000. Agora, tem mês de pico de safra em que tiramos R$ 17.000 juntos porque aprendemos como melhorar a qualidade do nosso coágulo”, relata Carla.

Quem também sangra seringueiras em família é José Roberto de Abreu, que cuida há oito anos do sítio de Magrini, o presidente da Apabor, em Monte Aprazível. Ex-colhedor de laranja e ex-tratorista, Abreu trabalha na sangria com a esposa Lucila e o filho Iago, de 22 anos, das 3h às 7h30.

Os irmãos Edmar e José Lourenço da Silva são uma raridade no segmento: há 31 anos, sangram seringueiras na fazenda da família Melegati e são especializados na coleta do látex líquido, chamado de leite. Eles trabalham na sangria entre 2h e 6h30. “Não é um trabalho fácil, mas certamente é o que dá mais renda na roça. Já passamos por muitos anos de crise no preço da borracha, mas sempre valeu a pena”, conta José.

No fim da década de 1990, a heveicultura já tinha atravessado a divisa do estado em direção a Frutal, em Minas Gerais, em busca de terras mais baratas, mas o “pulo do gato” da cultura ocorreu mesmo em Goiás, quando produtores de Barretos levaram a ideia de plantio para o conselho do Grupo Otávio Lage, dono da usina sucroalcooleira Jalles Machado.

Teresa Márcia Morais, cirurgiã dentista e terceira geração de sua família que se dedica à agropecuária, conta que o pai, Clóvis Ferreira de Morais, plantou seringueiras em duas fazendas em Barretos por sugestão de um libanês que tinha seringueiras em Manaus.

“Nós tínhamos fazenda em Goiás e éramos sócios da Jalles Machado. Como a mecanização da cana estava chegando, e cada colheitadeira iria desempregar umas 100 pessoas, meu pai fez a proposta de plantio da seringueira para ocupar a mão de obra que ficaria ociosa”, menciona.

Os sócios acataram a ideia e investiram em plantios em Goianésia, na região central goiana, com a assessoria técnica do paulista José Fernando Canuto Benesi, presidente da Abrapor e da entidade regional de Goiás e Tocantins.

“Começamos o plantio com 2.000 hectares. Os sócios da usina continuaram a expandir os seringais e foram atraindo outros produtores goianos. Hoje, há 278 propriedades em Goiás com seringueiras, com área de 25.000 hectares, sendo 24.000 hectares em produção, com 45.000 toneladas de borracha seca e uma produtividade média de 1.800 quilos de borracha seca por hectare”, diz Benesi.

Os sócios da usina com fazendas no Tocantins também levaram a cultura para aquele estado, que já tem área plantada de 7.000 hectares.

A região noroeste de São Paulo concentra 12 usinas de beneficiamento de borracha. Nenhuma delas oferece contrato fixo aos produtores ou parceiros. A Braslatex, em Bálsamo, é uma das maiores. Além da usina que começou a operar em 1991, o grupo tem 2 milhões de seringueiras na região.

De acordo com Antonio Carlos de Souza, gerente comercial da empresa, a capacidade da usina é de beneficiar 36.000 toneladas de GEB (granulado escuro brasileiro) por ano, mas, atualmente, o processamento é de cerca de 30.000 toneladas, que vêm das 50.000 toneladas de coágulos compradas dos produtores.

A usina paulista recolhe os coágulos nas fazendas, apura a concentração de borracha seca de cada lote (a média é de 53%), faz testes em amostras para mensurar plasticidade, viscosidade e sujidade, pica o produto várias vezes e seca em estufas. Depois, a borracha é prensada em fardos de 25 quilos, que são enviados às indústrias de pneus.

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