Uma abordagem inovadora voltada para pacientes idosos com câncer metastático acaba de mostrar resultados promissores ao melhorar significativamente a forma como esses pacientes compreendem e lidam com seu prognóstico.
O estudo “Prognostic awareness in older adults with metastatic cancer: Secondary analysis of a randomized controlled trial” (ABSTRACT #: 1624) foi apresentado no dia 1º de junho durante a Poster Session da ASCO 2025 (American Society of Clinical Oncology), em Chicago, nos Estados Unidos. O maior congresso de oncologia do mundo trouxe dados que podem transformar o cuidado oncológico de uma população frequentemente negligenciada.
A pesquisa, liderada por Cristiane Bergerot, psico-oncologista e líder nacional da especialidade equipe multidisciplinar da Oncoclínicas, analisou dados de uma intervenção chamada GAIN-S (Geriatric Assessment-Guided Supportive Care Intervention), para pacientes com 65 anos ou mais em diversos estados brasileiros.
A proposta vai além do tratamento padrão, ao oferecer cuidados personalizados baseados no resultado da avaliação geriátrica. Em 12 semanas, os pacientes que receberam a intervenção demonstraram avanços importantes em aspectos emocionais e adaptativos relacionados à consciência prognóstica — ou seja, à sua compreensão sobre a evolução da doença e expectativa de vida.
“Ter consciência do prognóstico é um componente crítico para decisões compartilhadas, alinhamento de expectativas e cuidado centrado no paciente, especialmente quando o tempo passa a ser um recurso escasso”, afirma a psico-oncologista.
Mudança de paradigma no cuidado oncológico
Com taxa de adesão de 93%, o estudo mostra que é possível implementar uma abordagem centrada em adultos com 65 anos ou mais mesmo em contextos desafiadores. A intervenção utilizou o questionário PAIS (Prognostic Awareness Impact Questionnaire), uma ferramenta validada e sensível a mudanças emocionais e comportamentais, permitindo avaliar com precisão como os pacientes se sentem e reagem frente às informações sobre seu estado clínico.
“Além do impacto emocional, a maior compreensão do prognóstico pode ajudar a reduzir o sofrimento, evitar intervenções desnecessárias e garantir que as decisões sobre o tratamento estejam realmente alinhadas com os valores e desejos do paciente”, explica Bergerot.
Destaques da pesquisa
Primeira iniciativa do tipo no Brasil: o estudo é pioneiro na aplicação da intervenção GAIN-S em diferentes estados, demonstrando sua viabilidade e potencial de escalabilidade.
Foco em uma população negligenciada: idosos com câncer metastático representam uma parcela significativa da população oncológica, mas ainda são sub-representados em estudos clínicos.
Ferramenta inovadora de avaliação: o uso do PAIS permitiu capturar nuances emocionais e de comportamento raramente analisadas em ensaios clínicos.
Relevância ética e clínica: ao favorecer o planejamento antecipado de cuidados, o modelo contribui para o respeito à autonomia do paciente e para decisões mais conscientes no fim da vida.
Diversidade geográfica e cultural: a participação de pacientes de diferentes regiões do país fortalece a aplicabilidade dos achados em múltiplos contextos assistenciais.
Segundo Cristiane Bergerot, os resultados indicam que há espaço — e demanda — para modelos assistenciais mais sensíveis às necessidades emocionais e cognitivas dos pacientes idosos. “Quando oferecemos tempo, escuta e um cuidado estruturado, mesmo em situações clínicas complexas, o impacto pode ser surpreendente. E isso, mais do que uma descoberta científica, é um compromisso ético com quem está enfrentando uma doença avançada”