Os números são claros e preocupantes: no Brasil, 83,9% dos alunos do 4º ano do ensino fundamental com maior renda familiar têm aprendizado adequado em leitura, enquanto apenas 26,1% dos mais pobres alcançam o mesmo patamar.
A diferença de 58 pontos percentuais é a maior entre os países avaliados no Estudo Internacional de Progresso em Leitura (PIRLS), o que mostra como a desigualdade socioeconômica se reflete na educação.
Para Guelda Andrade, secretária de Assuntos Educacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), a solução passa por políticas que compensem as diferenças de acesso à cultura escrita – e a educação integral é peça-chave nesse processo.
“É bem interessante a gente ver esses dados e fazer uma análise mais profunda. Crianças que têm acesso a livros, a um hábito cultural de leitura em família, onde se compra livros e se discute sua importância, terão desempenho muito melhor. Isso vira um costume de vida, uma regra. Já as que não vivem nesse meio ficam em desvantagem”, afirma Guelda.
O estudo, divulgado recentemente, foi aplicado no Brasil em 2021 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A pesquisa revelou que apenas 5% dos avaliados pertencem às famílias com renda acima de R$15 mil mensais – e os com melhores resultados. Na outra ponta, 64% dos estudantes vivem em lares com renda inferior a R$ 4 mil, grupo que concentra os piores desempenhos.
Para a secretária da CNTE, reduzir essa lacuna passa por investimento em escolas de tempo integral e educação integral, capazes de oferecer não apenas mais horas de aula, mas um ambiente que estimule diferentes potencialidades.
“O ideal é que o Estado brasileiro tenha um olhar cuidadoso para a implementação dessas escolas. Essas crianças precisam de mais tempo no espaço escolar, com qualidade, para desenvolver outros hábitos e outra cultura de aprendizagem”, defende.
Guelda ressalta que o domínio da leitura é a base para todas as áreas do conhecimento. “O processo da leitura e da interpretação daquilo que se lê vai refletir tanto na vida acadêmica como na vida pessoal. Muitas vezes, as pessoas confundem opiniões publicadas com notícias, e isso traz prejuízos sociais enormes”, alerta.
Para dar fim ao abismo que começa na infância, Guelda reforça que o caminho passa por expandir escolas de tempo integral com projetos pedagógicos; envolver famílias em programas de incentivo à leitura e garantir que os estudantes tenham acesso a materiais diversificados.
Escrito por: Redação CNTE