Pronto para tomar um café com leite e…gafanhoto? Uma cafeteira em Yunnan, na China, lançou a iguaria, que vem fazendo sucesso, pelo menos, nas redes sociais. Nesta cidade e em outras regiões do país, é comum a ingestão de insetos em diferentes pratos.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação (FAO), além dos chineses, outros 2 bilhões de pessoas em mais de 100 países consomem os animais de alguma forma.
A chamada entomofagia – o uso de besouros, gafanhotos, moscas e outros insetos na alimentação humana – é, inclusive, incentivada pela agência da ONU, que enxerga nos animais uma fonte alternativa para combate à fome e à deficiência de proteínas em populações carentes.
Além disso, o consumo de insetos é moda entre atletas e pessoas preocupadas com a saúde. Empresas como a americana ExoProtein e a francesa Jimini’s fazem produtos como biscoitos, barras de cereais e pós-proteicos.
A Europa e os EUA autorizam o uso de gafanhotos, grilos e larvas para a composição de alimentos. Recentemente, a Comissão Europeia também reconheceu as larvas de tenébrio (Tenebrio molitor) como um novo alimento, podendo ser usado como ingrediente para farinhas.
O conceito de “novo alimento”, definido pela Comissão Europeia, abrange itens que não foram consumidos em grau significativo por humanos na União Europeia antes de 15 de maio de 1997, data de entrada em vigor do primeiro regulamento sobre o assunto.
O que diz a Anvisa
No Brasil, não há legislação específica sobre o uso de insetos como ingrediente em larga escala, apenas para produtos artesanais.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) esclarece em seu site que, como não há um histórico desta prática, as empresas interessadas na produção têm que solicitar avaliação de segurança. O órgão diz que aprova a utilização para consumo humano caso se demonstre que as condições e a finalidade de uso são seguras.
Para fabricar produtos em escala comercial, também é necessário registrar os ingredientes no Serviço de Inspeção Federal (SIF). O Ministério da Agricultura até permite a cria e o abate dos insetos, a produção do alimento no mesmo local, desde que em estruturas independentes e com garantia de preservação da condição sanitária.
Para animais e humanos
Patrícia Milano, bióloga e doutora em entomologia pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, ligada à Universidade de São Paulo (Esalq/USP), desbrava esse mercado desde 2016, quando criou a Ecological Food, que vende insetos comestíveis para a produção de ração animal.
Eu como o que produzo e também vendo aos mais próximos, mas, nos testes comerciais, é preciso avaliar se os produtos são bem digeridos pelos humanos, se afetam o rim ou o fígado, quanto posso usar de cada inseto. Esse é um processo demorado”
A Ecological Food fica em Limeira, a cerca de 40 quilômetros de Piracicaba, e também tem suporte da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp) e da EsalqTec. “A farinha de grilo é altamente proteica e tem teores de ferro e cálcio acima dos valores encontrados em aves, bovinos e suínos, mas ainda enfrenta uma resistência cultural, que também precisará ser combatida para os produtos serem comercializados”, afirma a pesquisadora
Consumo interno
No Brasil, dados da Associação Brasileira de Criadores de Insetos (Abrasci) indicam que o país conta com a maior biodiversidade de insetos comestíveis (135), divididos em 9 ordens, 23 famílias, 47 gêneros e 95 espécies.
Os mais consumidos são os himenópteros (ordem das formigas), com 63% do total, seguidos pelos coleópteros (besouros), com 16%, e os gafanhotos e grilos, com 7%. No Parque Nacional do Xingu, insetos são fonte de alimento para diversas etnias indígenas.
Países que mais consomem insetos:
- África: Camarões, Congo e Nigéria.
- Ásia: Tailândia, Laos, Vietnã, Japão, Malásia, Mianmar, Filipinas, China, Indonésia.
- América do Sul: México.
- Oceania: Austrália, Papua Nova Guiné.
Insetos mais consumidos:
- Besouros,
- Lagartas de mariposas ou de borboleta,
- Vespas
- Formigas;
- Gafanhotos, grilos, cigarras e percevejos.
Por que insetos?
Segundo a FAO, há uma série de benefícios no uso de insetos para alimentação:
Ambientais:
- Os insetos são animais de sangue-frio, portanto a eficiência da conversão alimentar é alto. A quantidade de ração necessária para a produção varia dependendo do tipo e do processo de produção, mas a eficiência é muito alta. Em termos gerais, são necessários 2 quilos de ração para produzir 1 quilo de carne de inseto. Em contraste, são necessários 8 quilos de ração para produzir 1 quilo de carne bovina.
- A produção de gases de efeito estufa por insetos tende a ser menor do que a do gado. Por exemplo, os porcos produzem de 10 a 100 vezes mais gases de efeito estufa do que os bichos-da-farinha.
- Os insetos alimentam-se de resíduos domésticos (alimentos, resíduos humanos, resíduos animais, composto)
- Insetos não requerem tanta água quanto o gado.
- A criação de insetos não requer tanta terra quanto a criação de gado.
Saúde:
O conteúdo nutricional dos insetos varia dependendo do seu ciclo de vida, habitat e dieta.
- Os insetos fornecem uma fonte de proteína e micronutrientes de alta qualidade em comparação com peixes e carnes. Os insetos contêm mais ácidos graxos do que a maioria dos peixes, o que os torna uma boa fonte de nutrientes para quem sofre de desnutrição. Além disso, os insetos têm fibras. Também têm mcronutrientes como fibras, cobre, ferro, magnésio, manganês, fósforo, selênio e zinco.
- Os insetos têm baixo risco de transmissão de doenças infecciosas (doenças animais que podem ser transmitidas aos humanos)
Sociais e de subsistência:
- Coletar e cultivar insetos pode ser uma maneira de diversificar os meios de subsistência. O capital necessário para o equipamento é mínimo.
- A coleta e a criação de insetos representam uma oportunidade empresarial tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento.