Em 2024, os custos logísticos para o envio de grãos para Europa e Ásia caíram até 18% no Brasil em relação ao ano anterior. Ainda que esse movimento ajude a reforçar a competitividade brasileira no cenário internacional, o barateamento deveu-se menos a eventuais ganhos de eficiência e mais à diminuição da demanda: a quebra de safra em 2023/24 exigiu menos caminhões, barcaças e navios do que no ano anterior, o que reduziu o valor do transporte.
Entre os principais corredores logísticos do país, o Arco Norte é o mais barato para o envio de grãos à Europa. Segundo levantamento de Thiago Péra, coordenador da Grupo de Extensão em Logística da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (EsalqLog), o custo médio para a soja de Mato Grosso chegar ao mercado europeu por meio do porto de Barcarena (PA), usando os modais rodoviário e hidroviário, caiu 17,9% em 2024, para US$ 93,04 a tonelada. Para o embarque à China, a despesa total recuou 16,9%, para US$ 101,88 a tonelada.
No caso dos grãos do Paraná que seguirão para a Europa a partir do porto de Paranaguá, o gasto médio por tonelada diminuiu 11,2% no ano passado, para US$ 57,81. Já para a carga que terá a China como destino, o custo recuou 10,4% em relação a 2023, para US$ 61,69 por tonelada. Nessa rota, a soja se desloca no Brasil apenas por rodovias.
O frete marítimo representa cerca de 30% dos gastos totais do transporte de grãos no país. E, sem surpresas, as lavouras mais distantes dos portos, como as de Mato Grosso, são as que têm custo mais alto para o envio da produção até os terminais.
Para enviar soja de Mato Grosso para a China, o custo do transporte dentro do Brasil corresponde a 23% do total. Já o gasto para transportar o grão do Rio Grande do Sul equivale a 14,5% de toda a despesa para envio do grão para o mesmo destino. “Até por causa da distância, claro, é mais barato enviar os produtos para a Europa do que para a Ásia”, disse Péra ao Valor.
Para além da diminuição da demanda, a queda dos custos refletiu a desvalorização do real em relação ao dólar no último trimestre do ano, afirma o pesquisador. Ele ressalta que, nos Estados Unidos, os custos subiram 5% em 2024, em média. O Departamento de Agricultura americano (USDA, na sigla em inglês) deverá apresentar dados sobre o aumento das despesas até a semana que vem.
De janeiro a novembro do ano passado, 1,2 bilhão de toneladas de produtos em geral passaram pelos terminais portuários de todo o país, segundo o governo federal. Desse volume, 120 milhões de toneladas foram de soja e 50 milhões de toneladas, de milho. Os portos movimentaram ainda 40 milhões de toneladas de fertilizantes.
O Arco Norte, que inclui portos das regiões Norte e Nordeste, já é a rota que mais movimenta produtos agrícolas no Brasil. Somadas exportações e importações, passaram pelos terminais das duas regiões 55,5 milhões de toneladas de grãos e fertilizantes de janeiro a novembro de 2024. Em Santos, o volume dos produtos nesse mesmo intervalo foi de 43,6 milhões de toneladas. Paranaguá (PR), Rio Grande (RS) e São Francisco (SC) movimentaram, ao todo, 43,3 milhões de toneladas.
Segundo projeção do Ministério dos Portos, a movimentação de grãos nos portos brasileiros vai aumentar 30% até 2035. A taxa anual de crescimento será de 2%, projeta o ministério.
A EsalqLog calcula que o preço médio dos fretes rodoviários subirá de 15% e 20% neste verão em comparação com a mesma época de 2024. A projeção de alta dos custos deve-se à perspectiva de aumento da produção na safra 2024/25 e de concentração de colheita entre a segunda quinzena de fevereiro e a primeira de março.
A elevação do preço do diesel — o combustível está R$ 0,22 por litro mais caro desde a semana passada — é outro fator que deve encarecer o transporte de cargas agrícolas. Sobre isso, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse ontem que a cotação brasileira do diesel é uma das menores do mundo.
“Diesel é paridade internacional. O diesel no Brasil é um dos mais baratos do mundo (…) mas não dá para desatrelar do preço internacional senão vocês [jornalistas] falam que estão fazendo intervenção na Petrobras. Tem que ter coerência, não terá pirotecnia no governo Lula”, disse Fávaro durante anúncio de medidas de apoio ao escoamento da safra de grãos. (Colaborou RW, de Brasília)