A taxação de 25% imposta pelo governo de Donald Trump a produtos do Canadá e México, e a de 10% sobre a China, entram em vigor neste sábado (1º/2). O cenário pode trazer benefícios para o agronegócio brasileiro, em segmentos como insumos, por exemplo.
Para os americanos, a medida é particularmente preocupante no caso do Canadá, um dos três maiores fornecedores de fertilizantes de potássio no mundo. Rússia e Belarus, os outros principais exportadores, sofrem sanções internacionais.
Desta forma, a taxa sobre insumos canadenses deve ter efeitos diretos na agricultura dos Estados Unidos, com uma possível elevação dos custos de produção e uma consequente diminuição da competitividade dos produtos no mercado internacional. “Acaba, no final do dia, beneficiando o Brasil, tornando o nosso produto mais competitivo frente ao produto americano”, explica Bruno Fonseca, analista de insumos do Rabobank.
Há a possibilidade, inclusive, de o Brasil se tornar um destino mais atraente para as empresas canadenses exportarem adubo, uma vez que tem ampla demanda e não indica que irá taxar os produtos.
Marcelo Mello, analista da StoneX, diz acreditar que a decisão do governo dos Estados Unidos não deve ter efeito direto sobre os preços, porque tem efeito imediato. A situação seria diferente se a medida fosse entrar em vigor daqui a um mês, por exemplo. Poderia provocar uma “corrida dos produtores americanos por fertilizantes”.
Os analistas pontuam, contudo, que a geopolítica será um dos principais fatores de atenção, com potencial para influenciar fortemente os preços de commodities e de insumos agrícolas. Além dos fundamentos tradicionais do mercado, tensões políticas podem gerar impactos significativos nas cadeias de produção. “O principal ponto de atenção que a gente vai ter esse ano no mercado de insumos é o Trump”, diz Fonseca.
Segundo ele, o presidente americano tem demonstrado que irá utilizar de artifícios como taxas para pressionar outros países e como uma “arma de governo”. “É necessário observar também a guerra comercial contra China pensando em aumento de taxas, que seria bastante inflacionário para a produção americana”, acrescenta.
Cerca de 70% de todo mercado de defensivos passa pela mão da China. Durante a campanha, Trump ameaçou taxar também produtos chineses, em até 60%, mas anunciou 10%.
Mello destaca, ainda, que os conflitos geopolíticos ainda em andamento continuarão a interferir na cadeia de insumos em 2025 e, consequentemente, nos preços praticados no Brasil, uma vez que mais de 80% dos volumes utilizados são importados.
O Oriente Médio, por exemplo, é responsável por 37% da exportação mundial de ureia e, apesar do cessar-fogo entre Israel e o grupo Hamas, seguirá sendo um ponto de atenção.
A guerra da Rússia contra a Ucrânia também está na mira do mercado. Os russos estão entre os maiores exportadores mundiais de fertilizantes, e as ameaças do presidente Vladimir Putin de intensificar o conflito podem gerar novas flutuações nos preços e na disponibilidade dos produtos.