Produtores rurais do extremo sul do Rio Grande do Sul estão esperando a água baixar para calcular as perdas causadas por chuvas intensas que atingiram a região nesta segunda-feira (20/01). Parte das lavouras de arroz e de soja ficaram inundadas com as precipitações que chegaram a acumulados entre 250 mm a 450 mm em poucas horas, segundo a Metsul.
O produtor Leandro Vieira Paiva, que é também conselheiro do Instituto Riograndense do Arroz (Irga), afirma, em entrevista à reportagem, que em torno de 10 mil hectares de plantações de soja e de arroz devem ter sido atingidas na região. Áreas em Santa Vitória do Palmar, na fronteira com o Uruguai, são as mais prejudicadas. “Ainda tem muita água em cima das lavouras, por isso é difícil calcular o tamanho da perda”, comenta Paiva.
Nesta safra, ele plantou 900 hectares de arroz irrigado e 350 hectares de soja, no sistema rotacionado conhecido como ping pong. “Choveu em torno de 260 milímetros em seis horas. As duas culturas foram atingidas, mas a situação mais agravante é a da soja, que não tolera o encharcamento”, explica. Ele acredita que as perdas na cultura atingirão pelo menos 50%.
O produtor Marcelo Bueno, que também cultiva soja e arroz em Santa Vitória do Palmar, conta que os 1.800 hectares de soja foram atingidos: “choveu 400 milímetros em aproximadamente 12 horas e 100% da lavoura está embaixo d’água”.
Com chuva e seca atrapalhando o plantio, no início do ciclo, ele precisou replantar 30% da lavoura. “Nessa área, depois das chuvas de ontem, com certeza, a soja não irá mais nascer”, observa. Dos outros 70% da plantação, ele acredita que metade está bastante comprometida: “será uma perda muito grande”.
A estimativa inicial era colher entre 45 sacas a 50 sacas por hectare, pois já vinha sendo um ano difícil. “Agora, se colher 20 sacas por hectare, a gente ficará muito satisfeito”, lamenta. Na lavoura de arroz, que tem 2.900 hectares, ele acredita que o prejuízo será menor. Sem seguro para a área, Bueno espera a situação do campo normalizar para poder ter a real ideia das perdas.
Recuperação
Suzana Machado Terra, secretária municipal de Agricultura e Pesca de Santa Vitória do Palmar, conta que os produtores estão assustados com o volume extremo de chuva que atingiu a região e confirma que a soja é a cultura mais atingida. Ela conta que as estradas rurais também foram bastante prejudicadas. “É uma situação muito preocupante, estamos trabalhando em conjunto com a Defesa Civil e a secretaria de Saúde para atender as famílias atingidas”, afirma.
Com todos os campos plantados de arroz e soja, a água transbordou das lavouras para as vias, o que também dificulta o acesso às propriedades. O atendimento a moradores de nove agrovilas instaladas ao longo da BR-471, segundo a secretária, é prioridade. Ela também afirma que o município está unindo esforços para iniciar os trabalhos de recuperação das estradas rurais, garantindo a trafegabilidade na região, e conta com apoio do governo estadual, assim como espera ajuda no âmbito federal.
Roberto Ghigino, vice-presidente da Federarroz, ressalta que enquanto a chuva intensa atingiu a região, outros pontos do Estado ainda sofrem com a estiagem. “No momento ainda é difícil saber a dimensão dos estragos e das perdas, estamos começando a fazer um levantamento”, diz.
Ghigino também comenta que o prejuízo maior será para os sojicultores, uma vez que o arroz, dependendo do estádio do ciclo, aguenta alguns dias embaixo d’água sem resultar em maiores problemas. “Pode ter uma quebra, mas a região atingida começou a plantar mais tarde, então não deve ter tanto prejuízo”, considera. Ele completa que a produtividade média de arroz para a região, estimada inicialmente, gira em torno de 8.500 kg por hectare: “é uma zona bem produtiva”.
Ainda conforme o vice-presidente da federação, a região Sul do Estado semeou uma área aproximada de 166 mil hectares de arroz e a área atingida pelas chuvas desta segunda-feira deve representar um percentual pequeno.
Segundo a Metsul, a chuva de 419 mm em menos de 24 horas significa um terço da média anual inteira de precipitação de Santa Vitória do Palmar, ou seja, chuva de quatro meses.