Um cirurgião plástico e outros 12 médicos, entre residentes e ex-residentes, foram indiciados pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul depois do registro de ocorrência de 87 vítimas – 84 mulheres e três homens – por erros nas cirurgias. A informação foi divulgada em coletiva de imprensa da polícia, na manhã desta quarta-feira (11).
Entre os crimes cometidos estão associação criminosa, estelionato, lesão corporal grave e gravíssima, lesão corporal culposa por imperícia e concussão, já que para pacientes conveniados de determinados planos de saúde, ele cobrava valores extras.
De acordo com a investigação, que durou cerca de seis meses, Leandro Fuchs – nome não confirmado pela Polícia Civil, mas apurado pela CNN -, captava os pacientes por meio de grupos de redes sociais, afirmando que fazia cirurgias com “melhores resultados” e entregava “brindes” aos pacientes.
Entretanto, depois que a cirurgia era contratada, o médico se ausentava da sala no momento do procedimento. De acordo com a polícia, por vezes, Fuchs deixou, inclusive, o Hospital Ernesto Dornelles, onde as cirurgias aconteciam.
A investigação defende que ele deixava os residentes do hospital operando sozinhos enquanto tratava de assuntos particulares. Esse repasse de cirurgias para médicos não especialistas não era de conhecimento dos pacientes, que haviam contratado diretamente os serviços do médico.Play Video
Detalhamento das denúncias
Entre os anos de 2018 e 2023, um número expressivo de pessoas teria procurado a polícia civil denunciando situações que poderiam configurar práticas criminosas no exercício da medicina.
De 727 cirurgias, 481 precisaram de novas intervenções, o que representa mais de 66% de correções e complicações nos procedimentos feitos pelo médico.
Dentre essas denúncias, estão casos de pacientes que sofreram mutilações, necroses e infecções graves. Até o momento, 140 pessoas já foram ouvidas na investigação.
Depois do resultado indesejado, muitas vítimas tentaram retornar aos grupos de redes sociais nos quais conheceram o trabalho do investigado para criticá-lo e alertar novos pacientes. Todos os comentários negativos eram deletados dos grupos e os usuários eram bloqueados.
Para as vítimas, também havia desleixo no tratamento pós-operatório por parte do médico contratado.
Além disso, de acordo com a polícia, o médico agia com presunção perante os pacientes, orientando que eles não denunciassem os maus resultados, já que o cirurgião teria “muitos contatos” e as vítimas não obteriam sucesso.
Cirurgião atende em clínica
Leandro Fuchs, que é médico especialista em cirurgia plástica e atua no Hospital Ernesto Dornelles desde a residência médica, é gestor e regente da área de Cirurgia Plástica da instituição e também chefe do programa de residência médica em Cirurgia Plástica.
A Polícia Civil requereu a suspensão do direito do médico de exercer a profissão, mas a Justiça decidiu que ele poderia continuar atendendo em clínica, sem fazer cirurgias.
Além disso, ele também foi proibido de se ausentar de Porto Alegre e teve o passaporte apreendido. Conversas em redes sociais foram extraídas do celular de Fuchs.
A CNN entrou em contato com a defesa de Leandro Fuchs, com o Hospital Ernesto Dornelles e com o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (CREMERS) e aguarda retorno.