A região Norte é a que tem os piores índices nacionais de conectividade no meio rural – e, portanto, é também a que tem o pior desempenho nas avaliações sobre a penetração das tecnologias do campo que dependem de internet confiável e de boa velocidade.
Em levantamento publicado no ano passado, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que 58% da população das zonas rurais do norte do país não tem telefone celular e 35% dos moradores da região não têm acesso à internet em suas residências.
Outra evidência das dificuldades que os produtores rurais do Norte têm para acessar a rede apareceu no Indicador de Conectividade Rural (ICR), que a associação ConectarAGRO revelou pela primeira vez em abril deste ano: cinco Estados da região estão entre os menos conectados do país, segundo o indicador.
A despeito disso, de todos os sete Estados da região, somente o Pará faz parte do projeto Rural + Conectado, iniciativa do Ministério da Agricultura que visa a expansão da infraestrutura digital em locais sem acesso à rede. Rondônia, o quarto maior exportador de carne bovina do país, é outra das unidades da federação com grandes restrições na conectividade rural.
“Rondônia é um exemplo de como a conectividade pode mudar a dinâmica de locais que, apesar de serem fortes na produção de madeira e pecuária, ainda sofrem com as limitações da infraestrutura digital”, afirma Sônia Proença, diretora da Sol, companhia especializada em tecnologia para o agro. A empresa começou recentemente a trabalhar em projetos de instalação de torres de telecomunicação em áreas do Estado de difícil acesso.
Com o reforço da infraestrutura, os produtores podem começar a ter acesso às operações básicas, como a comunicação entre funcionários, mas também às tecnologias mais avançadas, como o uso de dados em tempo real para a gestão agrícola. “Sem a conectividade, o produtor rural fica isolado, com informações fragmentadas e baixa capacidade de inovação”, diz a executiva. “Hoje em dia, os produtores desses locais isolados têm acesso, basicamente, a uma rede de wi-fi na sede da fazenda.”
A Sol informa que já investiu R$ 1 milhão em infraestrutura para conectividade rural na Região Norte. Nos projetos que já saíram do papel, a nova infraestrutura permitiu a ativação de sinais no Pará e no Amazonas, além de Rondônia.
A expansão da rede de conexão é estratégica para o desenvolvimento de novos polos agrícolas do país. “Na prática, o produtor que está em Rondônia ou no Pará, por exemplo, passa a ter acesso às mesmas ferramentas tecnológicas disponíveis nos grandes centros agrícolas, como telemetria de máquinas e monitoramento climático. Isso nivela o campo de jogo”, argumenta Sônia Proença. “O verdadeiro impacto se dá quando os produtores podem, de fato, aplicar essas ferramentas para melhorar a gestão de suas propriedades.”