O mercado produtivo de suco de laranja enfrenta “uma queda praticamente irreversível, com desafios como clima e greening colocando uma pressão adicional a um mercado que já está bastante desequilibrado”, disse o analista do Rabobank Andres Padilla, em apresentação de perspectivas do banco para o setor do agronegócio em 2025.
“Estamos experienciando a menor safra em 35 anos em São Paulo”, disse Padilla. A última projeção para a safra 2024/25 é de 215 milhões de caixas, o que já representa uma redução de 30%, mas, devido à intensidade da estiagem em 2024, “há o risco de que seja ainda menor” na quarta florada na safra atual.
Apesar das dificuldades, o Brasil é o único grande produtor com condições de aumentar sua produção, avalia o banco holandês. Enquanto isso, a Flórida enfrenta uma situação crítica, tendo perdido 90% de sua produção em relação aos níveis de 15 anos atrás, especialmente após o furacão Milton.
O México também apresenta desafios, com o avanço do greening dificultando um crescimento relevante da produção no curto prazo. Outras regiões, como Itália e Espanha, continuam focadas no mercado de fruta de mesa.
O banco prevê uma possível recuperação na produção em São Paulo para a safra 2025/26. Além disso, os investimentos em novas áreas, especialmente no Mato Grosso do Sul e em Minas Gerais, estão avançando gradualmente, superando 20 mil hectares. No entanto, esses esforços não devem resultar em volumes relevantes para o mercado de suco industrializado no curto prazo.
O banco projeta uma oferta global de 1,01 milhão de toneladas para a safra 2024/25, 26% a menos que na anterior. A demanda global também recua, 18% menor, com 1,05 milhão de toneladas.
Quanto à demanda, o mercado consumidor global está em contração, influenciado por preços elevados. Contudo, o consumo de suco de laranja não-concentrado mostra resiliência nos Estados Unidos e em partes da Europa.
O preço elevado do suco de laranja concentrado e congelado (FCOJ, na sigla em inglês) contribui para essa tendência, uma vez que os consumidores em mercados desenvolvidos percebem maior valor em sucos premium quando o diferencial de preço é baixo. Os preços da commodity já são 41% maiores que o negociado na bolsa de Nova York na safra 2023/24.
Adicionalmente, marcas de sucos e marcas próprias precisarão aumentar seus preços nos mercados desenvolvidos no início de 2025, o que pode resultar em novas quedas de consumo. A manutenção dos estoques próximos das mínimas históricas por mais um ano é esperada, considerando a projeção de oferta e demanda para 2024/25, o que deverá sustentar os preços internacionais em patamares elevados na primeira metade de 2025.
O avanço do greening continua sendo uma preocupação, embora em um ritmo menor. Segundo o Fundecitrus, o índice de infecção em São Paulo atingiu 44% na safra atual, em comparação a 38% em 2023/24. “A desaceleração do crescimento da doença, juntamente com investimentos em irrigação e tecnologia, aumenta a resiliência dos grandes produtores”, afirma o relatório.