O avanço do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) no mês de outubro acendeu um novo alerta sobre o Banco Central (BC) e poderá ampliar o ciclo de aumento dos juros. O Comitê de Política Monetária (Copom) se reunirá daqui a menos de duas semanas, entre os dias 5 e 6 de novembro, para definir o novo patamar da taxa básica de juros, a Selic.
Na última reunião, de setembro, o Copom voltou a elevar a Selic, que subiu para 10,75% ao ano. Além desta reunião de novembro, o Copom ainda se reunirá nos dias 10 e 11 de dezembro, na que será a última reunião sob a presidência de Roberto Campos Neto. O sucessor dele, o atual diretor de Política Monetária Gabriel Galípolo, irá assumir em 1º de janeiro de 2025.
O IPCA-15, que é uma prévia da inflação oficial, registrou aceleração de 0,54%, em outubro, após subir 0,13% em setembro — o que representa avanço de 0,41 ponto percentual. Os dados, divulgados na quinta-feira (24/10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficaram acima das expectativas do mercado.Play Video
Segundo especialistas, a notícia do IPCA-15 foi salgada e indicou que a alta dos preços está seguindo de forma mais persistente do que o desejado pela autoridade monetária, o que pode exigir um ajuste mais agressivo, ou seja, a Selic ainda em patamar elevado.
Dos nove grupos pesquisados pelo IBGE, oito tiveram alta. Os dados indicaram que a inflação deverá chegar no fim do ano mais perto do teto da meta estipulado para 2024, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O centro da meta para este ano é de 3% com variação de 1,5 ponto percentual (ou seja, pode variar de 1,5% e 4,5%).
Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, explicou que o aumento nos preços de habitação, especialmente da energia elétrica, e alimentos eleva o custo de vida, pressionando o Banco Central a manter uma postura mais rigorosa com a taxa de juros. “Embora o setor de transportes tenha aliviado a pressão, o cenário ainda é inflacionário”, disse ele.
Eyng vê, inclusive, a possibilidade de o BC considerar na próxima reunião do Copom um aumento de 0,50%, levando a Selic para 11,25% ao ano.
Jefferson Laatus, chefe-estrategista do grupo Laatus, também ponderou que a aceleração do IPCA-15 indica uma pressão inflacionária mais intensa do que o esperado, especialmente em comparação com o avanço pequeno em setembro. “Com a inflação acumulando uma alta relevância, o Banco Central pode ser obrigado a reavaliar a velocidade dos cortes na taxa de juros. Essa maior pressão inflacionária pode afetar o câmbio e as expectativas do mercado”, sustentou.
Para João Kepler, CEO do Equity Fund Group, a alta do IPCA-15 mostra que a inflação continua sendo um desafio significativo, refletindo uma pressão persistente sobre os preços. Ele vê o Banco Central em uma posição complexa, já que será necessário equilibrar a desaceleração da economia com a manutenção do controle inflacionário embora o difícil rompimento no setor de inflação. “O cenário geral ainda se aproxima do teto da meta inflacionária, o que pode influenciar a autoridade sobre a moeda a adotar uma postura mais cautelosa e até mesmo considerar ajustes nos cortes de juros nas próximas reuniões”, afirmou.
Por sua vez, Alex Andrade, CEO da Swiss Capital Invest, argumentou que o cenário reforça a preocupação com a persistência das pressões inflacionárias, principalmente em itens essenciais como energia, que têm um impacto direto no custo de vida das famílias.
Segundo ele, isso “força o Banco Central a adotar uma abordagem mais cautelosa em relação aos cortes na taxa Selic”. “Além disso, a alta dos preços da energia elétrica reflete desequilíbrios no mercado, dificultando a implementação de novas infraestruturas que poderiam mitigar os custos no longo prazo”.
O IPCA-15
Para o cálculo do IPCA-15, os preços foram coletados no período de 14 de setembro a 11 de outubro de 2024 (referência) e comparados com aqueles vigentes de 15 de agosto a 13 de setembro de 2024 (base).
O indicador refere-se às famílias com rendimento de 1 a 40 salários mínimos e abrange as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador e Curitiba, além de Brasília e Goiânia.
De acordo com a divulgação mais recente do IPCA (setembro), a inflação está em 4,42% no acumulado do ano, bem próximo do teto da meta de 4,5%.