Os atrasos significativos nos portos brasileiros e alterações frequentes nas escalas de navios tem gerado um problema financeiro à cadeia do café: em setembro, 2,155 milhões de sacas do grão deixaram de ser embarcadas pelo caos logístico, segundo um levantamento divulgado nesta quarta-feira (16/10) pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
A apuração dos dados feita pela entidade com seus associados identificou que o Brasil deixou de receber R$ 3,2 bilhões em receita pelo não envio dessas milhões de sacas, que são equivalentes a 6.529 contêineres do produto.
Para chegar a este valor nominal, a entidade calculou o preço médio Free on Board (FOB, em inglês) de setembro, de US$ 269,40 por saca do café verde, e a média do dólar a R$ 5,5410 em setembro.
Somente em setembro, 69% dos navios, ou 190 de um total de 277 embarcações, tiveram alteração de escalas ou atraso para exportar café nos principais portos do Brasil, conforme o Boletim Detention Zero (DTZ), elaborado pela startup ElloX Digital em parceria com o Cecafé.
“O cenário fica ainda mais crítico quando se analisa o prejuízo que os exportadores de café vêm acumulando devido à falta de infraestrutura portuária adequada para cargas conteinerizadas no país”, segundo analisa o diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron.
Segundo ele, os associados reportaram um custo extra de R$ 5,938 milhões na tramitação das exportações, que envolvem pagamentos por detentions, armazenagens adicionais, pré-stacking e gate antecipado. “Esses entraves revelam que nossos portos não evoluíram na mesma velocidade do agro e se encontram com estruturas inadequadas para cargas conteinerizadas, expondo o esgotamento da infraestrutura e a necessidade de ampliação da capacidade de pátio, berço e do aprofundamento de calado para recebimento de embarcações maiores”, explica.
O levantamento aponta que o Porto de Santos, principal terminal escoador dos cafés brasileiros ao exterior, registrou um índice de 84% de atraso de porta-contêineres em setembro, o que envolveu 108 do total de 129 embarcações. O maior prazo de espera foi registrado em Santos, por exemplo, foi de 38 dias entre a abertura do primeiro e do último deadline.
“O nível de navios que tiveram janela aberta por menos de 48 horas alcançou seu pior índice desde janeiro de 2023, quando começamos o levantamento, e, mais preocupante ainda é o fato de que 42 navios sequer tiveram abertura de gate, ampliando o cenário de custos extras e elevados aos exportadores”, comenta Heron, em nota.
No complexo portuário do Rio de Janeiro (RJ), o segundo maior exportador dos cafés do Brasil, o índice de atrasos das embarcações foi de 58% no mês passado, com o maior intervalo sendo de 29 dias entre o primeiro e o último deadline. Esse percentual implica que 42 dos 72 navios destinados às remessas do produto sofreram alteração de escalas.
Heron reforça que o crescimento dos embarques das cargas conteinerizadas revela a falta de infraestrutura adequada nos portos brasileiros e seus impactos no comércio exterior. Uma fonte ligada a uma trading de café disse à reportagem que os atrasos revelam também um aumento da carga de exportação antes da vigência da lei antidesmatamento, prevista para 30 de dezembro deste ano.
Em setembro, o Brasil exportou 4,464 milhões de sacas, maior volume já registrado para este mês e que representa avanço de 33,3% na comparação com os 3,348 milhões de sacas embarcadas em idêntico período do ano passado.
No acumulado do ano, as exportações somam o recorde de 36,428 milhões de sacas, com alta de 38,7% em relação aos nove primeiros meses de 2023.