Pelo segundo mês consecutivo, os títulos públicos de curto prazo de renda fixa tiveram maior rentabilidade em setembro, segundo indicadores da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Isso significa que os investidores procuram se proteger da alta de juros e da inflação em um movimento de aversão ao risco.
As incertezas em relação ao cumprimento das metas fiscais do governo e o novo ciclo de alta da taxa básica de juros, a Selic, que passou de 10,50% para 10,75%, está entre os motivos que levaram os investidores a preferir papéis de curto prazo de renda fixa, em uma estratégia de proteção da carteira de investimentos diante do atual cenário econômico.
Mauro Orefice, da B.Side Wealth Management, observa que o motivo de maior rentabilidade nesses papéis ocorre por causa do aumento da expectativa de juros no mês passado. Para se ter uma ideia do cenário, o boletim Focus desta segunda-feira (14) projetou um aumento de 11% na expectativa das taxas de juros para o próximo ano.
“Então, toda a curva prefixada e ativos atrelados ao IPCA, todas essas taxas subiram ao longo do mês. Assim, se você tem um título de curto prazo e a taxa sobe, você perde menos dinheiro do que em um de longo prazo”, explica.
A inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), está em 4,42% em setembro, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A meta inflacionária estipulada pelo governo era de 3% ao ano.
Carlos Castro, planejador financeiro especializado em renda fixa, destaca que o desempenho da rentabilidade desses papéis está correlacionado ao cenário econômico.
“A tendência de possível aumento da Selic em 12% no final do ano fez com que títulos como Tesouro Selic tivesse retornos maiores. A questão fiscal também gera instabilidade e faz os investidores procurarem mais segurança em renda fixa. Essa correlação explica como os títulos são mais procurados nesse momento”, afirma.
Outras preocupações também se refletem nos títulos públicos de curto prazo.
“A subidas das taxas (curtas e longas) também tem sido influenciada pelo receio do compromisso fiscal do governo e ainda as preocupações com o crescimento da China, principal parceiro comercial do Brasil”, ressalta Daniel Leal, estrategista de renda fixa da BGC Liquidez.
Segundo a Anbima, os prefixados com vencimento em até um ano avançaram 0,82%, conforme o índice IRF-M1. A carteira obteve aumento de 7,18% no ano. Enquanto isso, os papéis com prazo acima de um ano renderam 0,11% ao mês e 2,50% no ano.
A Anbima destaca que, no geral, os papéis que compõem a dívida pública renderam 0,34% no mês e 4,99% no acumulado do ano. Os dados são do Índice de Mercado da instituição.
Já os títulos públicos indexados ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) com prazo de até cinco anos tiveram um ganho de 0,40% em setembro e de 5,30% no ano, de acordo com a entidade.
Paralelo a isso, a carteira com títulos que vencem acima de cinco anos apresentou um recuo de 1,42% no mês, com perda de 2,62% no ano.
Debêntures
As debêntures — dívidas emitidas por empresas — que estavam marcadas a mercado cresceram 0,56% no mês e 8,68% no ano até agora, conforme a Anbima. O mesmo cenário dos títulos públicos foi visto nas debêntures, com maior rentabilidade nos papéis de curto prazo.
Já o índice que acompanha o IPCA ex-infraestrutura de debêntures, sem incentivo fiscal, teve crescimento de 0,25% em setembro, de acordo com a Anbima. Já os papéis com isenção fiscal, refletidos no índice IPCA infraestrutura, caíram 0,11%. No ano, esses índices cresceram 6,50% e 6,05%, respectivamente.