Cerca de 90% do café produzido no Brasil utiliza variedades desenvolvidas a partir do banco de germoplasma da Fazenda Santa Elisa, de acordo com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC).
Não à toa, a presidente da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo, Helena Dutra Lutgens , diz que “a fazenda experimental é um patrimônio incomensurável do Estado de São Paulo, que precisa ser defendido (…) por todos os cidadãos brasileiros que zelam pela ciência”.
A opinião é compartilhada até mesmo por quem trabalha distante do IAC. Abraão Carlos Verdin Filho, pesquisador do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), afirma que o banco do germoplasma de café da Santa Elisa é o “suprassumo” da pesquisa.
“Nós aqui no Incaper temos o maior acervo de café canéfora [conilon e robusta] do mundo. Mas o IAC tem variedades como arábica, canéfora, robusta e outras. É indo nesses exemplares antigos que se tem todo o melhoramento disponível hoje em dia”, afirma ele.
A pesquisa do IAC é mundialmente respeitada e deve ser valorizada, acrescenta Verdin, que também é doutor em fitotecnia de planta. “Alcides Carvalho, que dá o nome ao centro de café do IAC, foi o precursor do desenvolvimento da cafeicultura, conhecido no mundo todo, com esse legado que precisa ser cuidado”, defende.
Dentre as variedades obtidas a partir desse germoplasma, destacam-se todas as cultivares resistentes à ferrugem e, mais recentemente, ao bicho mineiro. Outros estudos apontam que há também variabilidade genética para tolerância à seca e ao calor, características fundamentais para enfrentamento dos efeitos causados pela emergência climática, que já estão acontecendo no Brasil.
Diferentemente de outras culturas, porém, as sementes de café não podem ser mantidas em câmaras frias. Elas perdem o vigor em um ano. Portanto, a única maneira de preservar a genética é plantando.
“Manter esse banco de germoplasma é a salvaguarda para a cafeicultura brasileira”, diz o pesquisador do IAC, Gerson Giomo.
Segundo ele, a transferência das plantas para outros locais até seria possível, mas isso exigiria estudos de dois ou três anos e seria bastante oneroso.
Outra possibilidade seriam as estalquias e a coleta de sementes, diz. “Mas, outra vez, é preciso estudo para ver o que daria certo com essas plantas”, acrescenta.
Pelo seu cálculo, a manutenção das plantas de café do banco custa em média R$ 50 mil por ano, mas há pelo menos 20 anos, o banco não recebe recursos diretos do orçamento do IAC.
Atualmente, cerca de 90% das pesquisas cafeeiras realizadas pelo IAC na Fazenda Santa Elisa são financiados pelo Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), do Ministério da Agricultura e Pecuária, por meio de convênios com o Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa. Há ainda aportes da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), de outras instituições de fomento e da iniciativa privada.