Em alta desde agosto, a cotação da arroba bovina no Brasil deve seguir em trajetória ascendente nos próximos meses puxada por uma demanda firme e uma oferta em queda no país após recorde no volume de abates no primeiro semestre. A valorização, ressaltam analistas, ocorre a despeito do avanço do fogo em regiões produtoras – cenário que, em condições normais, tenderia a derrubar o mercado.
“Hoje a força do mercado tem sido tão forte quanto o clima pra determinar preço. A oferta ficou tão reduzida que a arroba continuou subindo indiferente a esses acidentes climáticos que estamos assistindo”, avalia o diretor-fundador da Scot Consultoria, Alcides Torres. Na avaliação dele, se o clima estivesse mais ou menos seco, os preços se comportariam da mesma forma.
“Claro que o clima interfere em toda a produção rural do planeta, mas muito mais do que o clima, hoje, o que está pesando na cotação do boi é a oferta de rebanho e o ciclo de preços”, completa Torres Após alta de 4,8% em agosto, o mercado iniciou setembro com valorização de quase 3% em setembro.
O diretor da Athenagro, Maurício Palma Nogueira, destaca que a redução da oferta tem ocorrido num momento de demanda firme tanto no mercado interno quanto no mercado externo, com as exportações brasileiras batendo recordes no primeiro semestre. Ao todo, foram 1,29 milhão de toneladas, um aumento de 27,3% comparado ao mesmo período de 2023.
“Isso gera a firmeza de mercado que estamos vendo, com contratos futuros reagindo 5% nos vencimentos mais longos, para outubro”, comenta Nogueira. Segundo ele, se tem havido fogo em áreas de pastagens, é porque há capim disponível para queima, o que significa que boa parte dos animais excedentes disponíveis para abate já foram liquidados.
A preocupação, alerta o diretor da Athenagro, está na oferta de animais terminados em confinamento ou à base de concentrado. “Quando há a perda de pastagem, o produtor tem que buscar alternativas para manter o rebanho, e isso inclui uso de concentrado, o que pode inclusive aumentar a produtividade”, explica.
Com isso, ele avalia que, em algum momento do segundo semestre, deva haver uma pressão pontual na oferta por conta da entrada desses rebanhos no mercado, mas sem comprometer os fundamentos de alta. “Provavelmente, já estamos na inversão do ciclo pecuário, por isso acreditamos que o cenário a partir de agora favorecerá a formação de preços melhores”, destaca Nogueira.
O diretor da Scot Consultoria concorda. Além das exportações firmes, ele destaca as boas perspectivas para o consumo interno no país. “O nível de desemprego caiu ao nível mais baixo dos últimos anos e a relação da elasticidade de renda para o consumo de carne está mais do que provado. Então, se não houver nenhum acidente de percurso, a expectativa é de preços firmes até dezembro”, completa Torres.