As altas temperaturas e a seca pesaram sobre o total colhido de café na safra 2024/25 e já indicavam uma incógnita sobre o tamanho da safra 2024/25. Em nova revisão divulgada nesta sexta-feira (2/8), a consultoria StoneX reduziu a estimativa em 1,7%, passando de 67 milhões para 65,9 milhões de sacas.
De acordo com o relatório da StoneX, a produção de café arábica para a safra 2024/25 está projetada em 44,7 milhões de sacas, um aumento de 4,6% em relação à safra anterior. O crescimento na projeção do café arábica se deve ao ajuste da expectativa de produção do Sul de Minas Gerais, de 16,2 milhões para 16,6 milhões de sacas.
No entanto, a produção de café robusta foi estimada em 21,2 milhões de sacas, o que representa uma queda de 6,8% em relação à última estimativa e uma redução de 1,6% comparado à temporada passada. A queda reflete a redução na expectativa para a produção da Bahia e do Espírito Santo, de 2,6 milhões para 2,3 milhões de sacas e de 16,2 milhões para 14,9 milhões de sacas, respectivamente.
Esse é o momento do ano em que as projeções sobre o café arábica e robusta começam ser atualizadas. No caso da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que prevê números inferiores aos de entidades privadas, a produção deve ficar em 58,8 milhões de sacas. Já o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) é mais otimista e indica 69,9 milhões de sacas.
A revisão é divulgada, após as visitas a áreas produtoras de café espalhadas por 8 mil quilômetros pelas principais regiões produtoras de café no Sul da Bahia, Norte e Sul do Espírito Santo, Matas de Minas, Sul de Minas, Cerrado Mineiro e Mogiana entre junho e julho, chamado Giro de Safra na StoneX. No total foram percorridos 100 municípios no final de 2023 e início de 2024.
“A incerteza com relação ao real tamanho da safra brasileira de café é um dos grandes fatores por trás da volatilidade dos preços, tendo em vista a importância do país com relação a oferta mundial de café. Enquanto em 2023 a discrepância entre as estimativas foi de quase 22 milhões de sacas, em 2024, a diferença entre a maior e a menor estimativa chegou a alcançar 16 milhões de sacas”, afirma o relatório.
As justificativas para o ajuste incluem a transição recente de um evento El Niño para condições neutras entre junho e agosto de 2024. “Durante o El Niño de 2023/2024, foram registradas temperaturas acima da média e ondas de calor, criando condições adversas para o desenvolvimento dos cafezais”, explicou a StoneX. Em algumas regiões do Cerrado, Espírito Santo e Bahia, por exemplo, as temperaturas chegaram a ultrapassar os 40°C.
Essas condições adversas resultaram em estresse térmico nas plantas, comprometeram o desenvolvimento dos cafezais e afetando tanto a produtividade, quanto a qualidade (tamanho de peneira) dos grãos.
A StoneX reforça que, desde meados de julho, algumas instituições privadas reduziram suas projeções para próximo de 66 e 67 milhões de sacas.
Segundo semestre
Para o segundo semestre de 2024, espera-se uma normalização na quantidade e distribuição das chuvas, contribuindo para uma floração uniforme. Contudo, os modelos climáticos sugerem que um retorno regular das chuvas pode ocorrer apenas a partir de meados de setembro e outubro. A falta de chuvas consistentes e as altas temperaturas continuam sendo uma preocupação, pois podem afetar negativamente o pegamento das flores e o desenvolvimento dos frutos.
Além disso, a possibilidade de um evento La Niña de baixa intensidade entre novembro de 2024 e janeiro de 2025 pode trazer condições mais amenas que podem beneficiar a produção. A La Niña é esperada para reduzir as temperaturas médias e máximas e aumentar a quantidade de chuvas.
“Nesta condição, o robusta se beneficia, especialmente nas regiões de Espírito Santo e Bahia, que geralmente permanecem parcialmente mais nubladas. Isso reduz a escaldadura, ou seja, a queima das folhas e frutos, favorecendo a produtividade”, explica a consultoria.
O relatório também destaca que, apesar do desenvolvimento vegetativo positivo dos cafezais, o estresse hídrico durante o inverno seco reduziu a capacidade de água disponível no solo. Entre as consequências estão sinais de murcha e desfolhamento das plantas.
A perspectiva de um retorno regular das chuvas pode estimular a florada e o desenvolvimento da safra 2025/26, mas as incertezas climáticas permanecem, o que pode influenciar as cotações no mercado do café.
A consultoria destaca, ainda, a necessidade de adaptação dos produtores frente às mudanças climáticas, “implementando tecnologias de irrigação e escolhendo variedades de café mais resistentes. Monitorar as previsões climáticas e ajustar as práticas agrícolas serão essenciais para mitigar os impactos adversos e garantir a sustentabilidade da produção de café no Brasil”, diz.
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