Os 314 hectares de tomate industrial da Fazenda São Braz, em Hidrolândia (GO), representam cerca de 26% da área total cultivada na propriedade, de 1,2 mil hectares, mas há pelo menos quatro anos o fruto é a principal cultura em termos de rentabilidade. Com os preços de soja e milho em queda, o tomate deve garantir, por mais um ano, o resultado dos produtores da região.
“A rentabilidade da soja e do milho nesses últimos anos foi quase zero. A gente lutou para pagar os custos, enquanto o tomate tomou um papel importante no faturamento da fazenda, a ponto de se tornar o principal”, relata o agrônomo e responsável pela área produtiva da fazenda, Fernando de Sousa Simão.
A 150 quilômetros de Goiânia, em Orizona, o agricultor Cristiano Lutkemeyer também tem o tomate industrial como principal fonte de receita na fazenda. De seus 2,5 mil hectares, 800 hectares são destinados ao cultivo do fruto. Segundo ele, a produção gera um retorno até sete vezes superior ao obtido com grãos.
A maior rentabilidade, contudo, é proporcional ao risco da cultura. “Na mesma área irrigada, se você plantar soja, você vai colher entre 80 sacas e 100 sacas por hectare, uma variação de 20%. Com o tomate, essa produtividade pode variar até 100%, de 80 toneladas a 160 toneladas por hectare”, diz o produtor.
Tanto Lutkemeyer quanto Fernando Simão são fornecedores da unidade de atomatados da Cargill, em Goiânia.
Segundo estimativa divulgada em fevereiro pela Secretaria de Agricultura de Goiás, o Estado deve colher 1,2 milhão de toneladas do fruto este ano, o que representará um crescimento de 24,8% em relação a 2023. Os trabalhos em campo começaram em junho e vão até outubro. O volume é equivalente a 31,1% da produção nacional, consolidando Goiás como o maior Estado produtor do país.
Na Fazenda São Braz, a produtividade da lavoura tem crescido entre 10% e 12% ao ano. O volume adicional visa atender a demanda da indústria, que todos os anos define o preço e encomenda a quantidade que irá comprar.
Em troca, a indústria fornece todos os insumos necessários para o cultivo, da semente à mão de obra para a colheita, garantindo previsão de retorno financeiro – outra vantagem da cultura em relação aos grãos.
“É muito importante sabermos a rentabilidade aproximada que vamos ter. O grande problema de uma lavoura é produzir e não ter para quem vender, e nisso estamos garantidos”, afirma Fernando Simão.
O consumo de atomatados no Brasil tem crescido 20% ao ano, segundo o líder de marketing da categoria na Cargill, Daniel Pontes. A companhia é líder no mercado de atomatados do país, segundo levantamento da Nielsen.
“O molho de tomate tem 98% de penetração nos lares brasileiros. Ou seja, virtualmente, todos os lares hoje consomem o molho de tomate”, ressalta Pontes.
Ao todo, as áreas dos 36 fornecedores da empresa somam 4,7 mil hectares plantados no Estado de Goiás, com uma produtividade média entre 85 toneladas e 90 toneladas por hectare. A área plantada este ano para a empresa teve crescimento de 18% a 20% em relação a 2023.
Segundo o líder agrícola para tomates da Cargill no Brasil, Rafael Santana, o mercado do fruto está vivendo um momento favorável, o que tem gerado mais interesse dos produtores pelo cultivo do tomate industrial. No entanto, a estratégia da companhia é limitar a quantidade de produtores parceiros.
“A nossa ideia é ter grandes produtores porque assim conseguimos ganhar em escala, fazendo várias operações e facilitando o nosso planejamento”, afirma. Dentre os critérios para a realização de novas parcerias estão a distância de até 250 quilômetros da fábrica da Cargill, localizada em Goiânia, e a presença de sistema de irrigação.
“Geralmente um produtor que é um bom produtor de soja, de milho e que tem bons equipamentos está apto a cultivar o tomate industrial. Porque, apesar de termos fornecedores que prestem o serviço de manejo, se ele não tiver uma boa estrutura no campo, ele não consegue fazer uma boa produção”, diz Santana.
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