Os juros futuros registraram alta nesta segunda-feira (29), um pouco mais acentuada nos contratos de médio prazo.
Mesmo com a curva tendo acumulado prêmios ao longo da semana passada, as taxas avançaram diante das preocupações com o cenário fiscal e com a desancoragem das expectativas de inflação, tendo à frente uma semana carregada de indicadores e eventos aqui e no exterior.
As taxas chegaram a migrar para perto dos ajustes de sexta-feira (26) no período da tarde, na esteira da melhora do câmbio, mas retomaram o fôlego.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 estava em 11,73%, de 11,69% no ajuste de sexta-feira.
O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 12,00% (de 11,94%) e o DI para janeiro de 2029, taxa de 12,18%, de 12,12%.
Na contramão das altas, a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,735%, de 10,766% no ajuste do fim da última semana.
A queda do dólar à casa dos R$ 5,62, na contramão da tendência externa de avanço, não foi suficiente para animar o mercado de juros, conseguindo no máximo fazer com que as taxas zerassem pontualmente a alta no meio da sessão.
Até porque o alívio do câmbio se deu por fatores técnicos e não por melhora de percepção do cenário econômico. Os rendimentos dos Treasuries hoje bem comportados também não foram capazes de segurar a alta das taxas locais.
O mercado buscou se proteger antes da agenda pesada dos próximos dias com reuniões de política monetária em vários países, com destaque para o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) na quarta-feira (31).
É unânime a aposta de Selic estável em 10,5%, segundo levantamento do Projeções Broadcast. O comunicado deve vir “hawkish” uma vez que variáveis como o câmbio e as expectativas de inflação pioraram desde a reunião de junho.
Nesse contexto, os dirigentes devem evitar qualquer sinalização futura (guidance) e reforçar que as próximas decisões estarão na dependência dos dados econômicos.
O Boletim Focus trouxe elevação nas medianas de IPCA para 2024 (de 4,05% para 4,10%) e 2025 (3,90% para 3,96%), cada vez mais distantes da meta central de 3%.
A mediana de câmbio para 2024 foi mantida em R$ 5,30, mas para 2025 foi elevada de R$ 5,23 para R$ 5,25.
“O mercado também já vai antecipando eventos do segundo semestre, como a mudança no comando do Banco Central”, acrescenta León Santiago, head de renda fixa da Ville Capital.
Na avaliação do Itaú Unibanco, a política monetária se encontra no limiar de uma inflexão, e, nas condições atuais, a Selic necessária para levar a inflação à meta no horizonte relevante já seria de pelo menos 11%.
“Tal condição deve levar o comitê a renovar a promessa de vigilância, e afirmar que avaliará se a estratégia de manutenção da política monetária em patamar contracionista por tempo suficiente será capaz de assegurar o processo de desinflação e reancoragem das expectativas”, afirma o time de pesquisa macroeconômica liderado pelo economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita.
Além do Copom, a agenda local reserva indicadores do mercado de trabalho, para os quais a percepção segue sendo a de aperto, com taxa de desemprego em queda e aumento real nos salários.
Pelo lado fiscal, há expectativa em relação ao detalhamento do congelamento de gastos anunciado pelo governo, de R$ 15 bilhões, amanhã. A indicação é de que todas as áreas serão atingidas em maior ou menor grau.
O governo federal só poderá contingenciar R$ 882,4 milhões em emendas parlamentares, deixando o maior peso da contenção no Orçamento nas verbas do Executivo.
Pela manhã, o BC informou que o setor público consolidado teve déficit primário de R$ 40,873 bilhões em junho, o maior para o mês desde 2023, quando houve um rombo de R$ 48,898 bilhões. O resultado foi um pouco maior do que indicava a mediana de déficit de R$ 39,4 bilhões.
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