Dos 47 mil polos de Ensino à Distância (EaD) que existem no Brasil, 46% são terceirizados. Ou seja, além de entregar uma péssima qualidade, essas unidades não são sequer geridas por quem as criou. São outorgadas a terceiros desqualificados, mediante a concessão de aproximadamente 30% do valor arrecadado em mensalidades. Trata-se de um negócio nefasto, que transforma a educação em mera especulação financeira. Os dados são do próprio Ministério da Educação (MEC) e foram levantados pela Folha de S. Paulo.
“O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) é terminantemente contra o EaD para formação de profissionais de Enfermagem. Essa modalidade tem provocado uma verdadeira tragédia no campo da saúde, perpetrando a formação de profissionais de baixíssima qualidade para atender a população brasileira”, diz o presidente do Cofen, Manoel Neri.
Na medida em que autorizou esse tipo de terceirização nos idos de 2017, o MEC também deixou de realizar inspeções presenciais nessas unidades. Desta feita, as instituições passaram a registrar livremente novos polos EaD sem o mínimo controle, transformando o sonho dos alunos em um verdadeiro pesadelo, uma vez que esse tipo de formação é inócua e não atende as necessidades e requisitos mínimos necessários para que os egressos possam ingressar no mercado de trabalho.
“O MEC já proibiu a abertura de novos cursos nessa modalidade e anunciou que vai criar um novo marco regulatório para o setor, mas foram anos de descontrole, que permitiram a proliferação de cursos sem a menor qualidade. No campo da Enfermagem, é improvável que um aluno formado dessa forma consiga exercer a profissão e prestar assistência à população com segurança técnica”, opina Manoel Neri.
Entre 2018 e 2024, os polos EaD saltaram de 15 mil para 47 mil. O atual modelo não agrada nem os representantes do setor. “Tem polo em funerária, no meio da rua, no meio da floresta. Essa bagunça só existe porque lá atrás o MEC determinou que não haveria mais visita a polos. Foi um convite para que o mercado fizesse o que quisesse”, diz a presidente da Associação Nacional das Universidades Particulares (ANUP), Elizabeth Guedes.
Em 2022, mais de 3,1 milhões de pessoas ingressaram em cursos EaD, enquanto apenas 1,6 milhões ingressaram no ensino presencial. As profissões mais afetadas são a Pedagogia, Administração, Contabilidade, Sistemas de Informação, Gestão de pessoas e Enfermagem. “O que ocorreu foi uma massificação, e não uma democratização do ensino superior”, alerta Julio Bertolin, professor da Faculdade de Educação da Universidade de Passo Fundo.
De acordo com o último Censo da Educação Superior, o número dos alunos que ingressam na graduação EaD é o dobro dos que ingressam na educação presencial. Atualmente, existem 17,2 milhões de vagas abertas em cursos à distância e apenas 5,6 milhões no ensino presencial.
“Precisamos reverter esse quadro, principalmente no campo das profissões regulamentadas, como é a Enfermagem. Não é possível formar um profissional que cuida da saúde das pessoas à distância. Esse modelo coloca a vida em risco”, finaliza o presidente do Cofen, Manoel Neri.
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