Na então Miracema do Norte década de 70 as opções de diversão eram mínimas, se resumindo a jogos de futebol no Batistão, Missa Dominical na Catedral Santa Teresinha seguida de caminhada ao redor da Praça Derocy Morais e depois uma chegada até a Boate Kaverna, não esquecendo os banhos no Correntinho, especialmente no Chapéu de Palha do Valter ou Rancho Alegre do Vovô.
MAS…
Uma das grandes atrações era o famoso Cine Operário inaugurado por Severino Lopes Teixeira localizado à Rua 1º de Janeiro, uma grande novidade, até porque em Miracema não havia televisão.
Lembro-me que o estúdio da amplificadora que anunciava os filmes ficava na parte superior do ambiente acessado por uma escada de madeira em um espaço diminuto e calorento refrescado por um ventilador tipo de boleia (cabine) dos caminhões antigos onde dividiam a locução os saudosos Bob Floriano e Ditinha.
Os filmes mais buscados eram os famosos bang bang do velho oeste, os faroestes como eram conhecidos.
O ENGRAÇADO…
Era que a frequência e a escolha dependiam muito dos cartazes colocados às ruas da cidade fixados em suportes de madeira, em outras palavras, se o cartaz agradasse significava que o público estava garantido para a tranquilidade dos proprietários.
ZÉ CABEÇÃO…
Era um sertanejo que trabalhava em juquira (roçagem de mato) em fazendas próximas a Miracema, entretanto, não era dado a ir à cidade com frequência, em que pese, largar o serviço bruto e o mato ser um sonho.
UM BELO DIA…
Um bondoso fazendeiro levou Cabeção para passar uma temporada na zona urbana oferecendo serviço mais leve que prontamente foi aceito.
Arredio, nosso personagem se atreveu a dar uma volta pelas ruas deparando-se com um cartaz de filme faroeste colocado embaixo de uma mangueira; sem saber o que era e meio acanhado perguntou para um jovem ao seu lado do que se tratava, pois, não sabia ler.
O rapaz educadamente explicou o que era dando inclusive o endereço do Cine Operário, dia da exibição e horário.
O matuto voltou decidido que domingo iria assistir o tal filme.
À tardinha tomou um belo banho, inclusive, lavando o cabelo com sabão em barra, tirando do saco uma calça preta e camisa branca extremamente amarrotadas que serviam tanto para roçar pasto como usar socialmente.
Cuidadosamente penteou a vasta cabeleira com um pente flamengo surrado e sem alguns “dentes” não esquecendo do desodorante Avanço e o tradicional Leite de Rosas.
Aí só foi colocar a sandália havaiana minuciosamente lavada dirigindo-se ao cinema, afinal, era a primeira vez, seria bom chegar cedo para saber como fazia para entrar.
Na porta do cinema já estava a meninada doida para que a bilheteria fosse aberta.
Cabeção ficou por ali e comprou seu ingresso; entrou se acomodando nos bancos compridos de madeira observando tudo ao seu redor não escondendo o olhar de admiração.
No horário certo, a luz apagou iniciando a exibição com o tradicional e famoso Canal 100 mostrando em câmera lenta lances de dois times cariocas no maracanã.
Cabeção encantado não piscava os olhos!
CHEGOU A HORA…
O faroeste começou e como todo início sem muito barulho, mas, a expectativa era grande por fortes emoções.
A IMAGEM DE UM DESERTO…
Cercado de montanhas rochosas e uma carruagem percorrendo o vale lá embaixo surgiu na tela.
Em cima da montanha um monte de índios pintados e armados até os dentes com um barulho infernal começaram atacar os ocupantes do “veículo” iniciando um enorme tiroteio.
Os Apaches não estavam para brincadeiras era flecha para tudo quanto é lado, fato que começou a incomodar nosso personagem que nervoso foi suando e ficando inquieto.
Não demorou muito e a cavalaria chegou travando uma feroz batalha onde flechas e tiros brigavam por lugar.
A cada flecha lançada ou tiro dado Zé Cabeção se desviava com medo de ser atingido… pendia para direita, para esquerda, baixava a cabeça, era um suplício para o nosso inocente matuto que achava ser tudo aquilo verdade e acontecendo ali.
Cabeção fechava os olhos, botava as mãos na cabeça, no coração, a garganta foi ficando seca, as pernas faltando, já não sabia o que fazer.
Olhou para um lado para o outro procurando a porta de saída, mas, tudo escuro não sabia o rumo.
O PONTO FINAL…
Aconteceu quando um Apache e seu cavalo vieram correndo como se fossem sair da tela e invadir o salão; Cabeção não aguentou gritando bem alto:
“Socorro, me acudam pelo amor de Deus”.
Os presentes ficaram espantados sem saber o que estava acontecendo…
A exibição foi interrompida e as luzes acenderam!
Foi quando observaram que embaixo de um banco tinha um homem em posição fetal tremendo igual vara verde com olhos totalmente fechados que só levantou com muita insistência, um copo cheio de água com açúcar e após a confirmação que já não havia nenhum índio nem soldado no local.
Antes do dia raiar voltou para o mato alegando que escapou por um fio.
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