Passados quatro anos da criação do Open Finance pelo Banco Central, o sistema que permite compartilhar informações entre bancos ainda é desconhecido por metade da população brasileira, de acordo com pesquisa do Datafolha.
Entre os entrevistados, em todas as regiões do Brasil, 55% nunca ouviram falar do Open Finance e outros 19% dizem estar “mal informados” e “não saber quase nada”, uma sinalização de que ainda vai levar tempo para o serviço ter uso mais amplo. A adesão tem sido maior entre as fintechs e bancos digitais, com 17 milhões de consentimentos ativos, dos 30 milhões que o sistema chegou em 2024.
A pesquisa do Datafolha revelou que só 5% dos brasileiros afirmaram estar “bem informados” sobre o Open Finance, enquanto 22% dizem estar “mais ou menos” informados. O Datafolha entrevistou 1.452 pessoas com conta bancária em 113 cidades brasileiras de todas as regiões. O levantamento faz parte de um estudo da Zetta, a entidade que reúne fintechs e bancos digitais, e foi apresentado ontem ao Banco Central.
“É preciso ter em mente que o Open Finance é uma agenda de desenvolvimento gradual, pensada e estruturada para ser implementada em fases, das mais simples às mais complexas”, afirma o presidente da Zetta, Eduardo Lopes. Para que essa agenda avance e mais pessoas venham a aderir ao Open Finance, ele defende a necessidade de avanços regulatórios e mais comunicação dos bancos. Também é preciso mais casos de uso pela população e aqui ele usa a comparação com o Pix, que pegou rapidamente na população.
O Open Finance, argumenta Lopes, é uma solução mais abstrata do que o Pix, que é um produto. Nesse sistema, as pessoas se beneficiam, por exemplo, vendo em um só aplicativo o seu saldo em contas de diferentes bancos, mas nem sempre se dão conta de que o que está por trás daquela funcionalidade é o Open Finance. “Não vemos as pessoas falando ‘hoje eu usei o Open Finance’. É uma solução mais abstrata.”
Desconhecendo os benefícios
No geral, o conhecimento do Open Finance é maior entre as pessoas de mais renda e maior escolaridade. Porém, também chama atenção na pesquisa que as pessoas que afirmam conhecer o sistema, ou ter ao menos algum conhecimento, não estão percebendo os benefícios de seu uso. A possibilidade de conseguir juros menores nos bancos ao aderir ao Open Finance foi citada por apenas 4% das pessoas como os maiores atrativos, assim como a chance de conseguir acesso a melhores soluções de pagamento (3%), apesar destes serem dois dos principais objetivos na criação do sistem.
Dos entrevistados, 36% afirmaram não saber dos benefícios. Ainda sobre a percepção dos benefícios do Open Finance, dentre os entrevistados que não souberam indicar quais são eles, 50% pertencem às classes D e E.
Na pesquisa, entre os principais benefícios apontados pelas pessoas, 25% citaram facilidade de acesso ao crédito/aumento do limite; 23% mencionaram maior organização e praticidade na movimentação de contas e 12% a maior facilidade na consulta e compartilhamento de dados entre os bancos.
Há uma percepção por parte dos brasileiros de que os bancos digitais/fintechs são as instituições financeiras que mais se destacam no Open Finance, de acordo com 56% dos entrevistados. Quando a pergunta é para onde as pessoas estão compartilhando seus dados financeiros via Open Finance, novamente as fintechs/bancos digitais aparecem como principal destino (80%). Nubank foi a instituição para a qual os entrevistados mais tentaram levar os dados, com cerca de 40%. PicPay aparece em seguida com 17% e Itaú com 14%.
A pesquisa constatou também que o uso do sistema ainda é baixo: 12% dos entrevistados compartilharam ou tentaram compartilhar dados pelo Open Finance. Já os pagamentos e transferências feitos pelo sistema são menos comuns, informados por apenas 6% dos entrevistados.
Portabilidade
Entre as funcionalidades mais desejadas das pessoas no Open Finance está a portabilidade de salário, assim como alertas de transações suspeitas ou cobranças de juros e tarifas. “Portabilidades via Open Finance – de crédito, salário e investimentos – é fundamental que avance rapidamente, para que as pessoas entendam os benefícios do Open Finance”, ressalta o presidente da Zetta. “Essas portabilidades já existem, mas o processo hoje é muito burocrático, demorado e nem sempre dá certo.” No caso dos salários, um ajuste na regulação ajudaria a tornar possível, permitindo que as contas salários façam Pix via Open Finance.
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