O preço da soja acumulou alta no Brasil na semana passada, com suporte da taxa de câmbio e dos prêmios de exportação, enquanto as cotações internacionais tiveram baixa no período. O mercado ainda aguarda os desdobramentos da tramitação da Medida Provisória 1227, que limita a utilização de créditos tributários de PIS/Cofins. A medida tem sido alvo de críticas de diversos segmentos do agronegócio brasileiro.
Na bolsa de Chicago, a desvalorização da soja no acumulado das primeiras sessões do mês foi de 2,22%, de acordo com levantamento do Valor Data, com base no contrato de segunda posição de entrega. Na sexta-feira, os lotes para julho caíram 1,73% e fecharam a US$ 11,79 o bushel.
“É um movimento de fundos e, quando acontece, não tem que segure. Quando há esse movimento violento de fundos, temos que esperar se recuperar, porque a situação de produção e consumo ainda é favorável a ter preços altos” avalia João Birkhan, do Sim Consult, em vídeo divulgado pela internet.
Nos levantamentos da consultoria, os prêmios para julho estão positivos em US$ 0,45 por bushel sobre o preço na bolsa. Para agosto, o diferencial está em um ágio US$ 0,58 por bushel sobre a cotação do mesmo vencimento em Chicago.
Neste cenário, o indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) acumulou alta de 0,3% nos primeiros dias de julho, encerrando a sexta-feira em R$ 138,29 a saca de 60 quilos, base Paranaguá. A referência baseada nos negócios no Estado do Paraná subiu 0,29% no período, e chegou a R$ 133,66 a saca.
“De modo geral, os negócios estão lentos. Enquanto vendedores seguem retraídos, à espera de cotações maiores, compradores acreditam que as desvalorizações externas serão repassadas ao Brasil”, diz o Cepea, em nota, nesta segunda-feira (10/6).
MP 1227
Os agentes de mercado também avaliam que efeitos as mudanças na compensação de PIS e Cofins pode ter nos preços do grão e na comercialização. A edição da MP 1227 desagradou representações do setor produtivo, entre eles a cadeia produtiva de soja. O mercado interno ficou praticamente parado desde a publicação do texto.
A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), estima uma queda de até 5% nos preços pagos ao produtor como forma de compensar eventuais impactos das novas regras nos seus balanços. A entidade que representa as processadoras do grão calcula ter créditos acumulados de R$ 6,5 bilhões.
João Birkhan, do Sim Consult, classifica a situação como “lambança” do governo. “O lucro da indústria brasileira estava muito ancorado no crédito de PIS e Cofins. Se isso não acontecer mais, vai ter que exercer um preço mais barato na aquisição da matéria-prima para fazer o seu resultado de outra maneira. Isso é bastante ruim”, diz ele.
Como a medida foi adotada por meio de Medida Provisória, tem força de lei e entra em vigor imediatamente. A regra vale até análise pelo Congresso Nacional, que pode manter ou até mesmo acabar com a validade da normativa.
Entidades do setor, como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) defendem que o Congresso devolva o texto da MP ao Poder Executivo. Nesta terça-feira (11/6), a Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) reunirá a Coalizão de Frentes Parlamentares para discutir o assunto.
“O encontro é uma articulação para que a MP seja devolvida, uma vez que o governo não dialogou com a sociedade organizada e com o Congresso Nacional. A medida tem impacto nas empresas e também para o consumidor”, informou a assessoria da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), em nota.
Cotação internacional
Nesta segunda-feira, a soja voltou a subir no mercado internacional. O contrato para julho na bolsa de Chicago ajustou para US$ 11,88 por bushel, alta de 0,74%. Os lotes para agosto de 2024 tiveram elevação de 0,45%, cotados a US$ 11,82. Todos os vencimentos para este ano fecharam o dia no positivo. Quedas apenas nas posições em aberto para 2025.
Nesta quarta-feira (12/6), o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulga o relatório mensal de oferta e demanda mundial. A expectativa de analistas de mercado consultados pelo The Wall Street Journal é de uma revisão da estimativa para a colheita do Brasil a safra 2023/24 para 151,4 milhões de toneladas.
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