O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, disse na terça-feira (6/6) que a importação de arroz não vai gerar queda nos preços pagos aos produtores brasileiros. Ele pediu “cautela” ao setor e afirmou que o tema não deve ser “politizado”. A bancada ruralista disse que a medida é “politiqueira e oportunista” e vai tentar alterar as regras para a compra do cereal pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
“Não é momento de tanto alvoroço. O arroz também é preço globalizado. Não é a importação que vai derrubar o preço, não é importação que vai fazer isso ou aquilo. O Brasil importa 1,8 milhão de toneladas tradicionalmente e exporta quase o mesmo tanto”, afirmou Geller a jornalistas mais cedo.
Segundo ele, em alguns casos é preciso realizar “ações concretas para atender também a demanda nacional”. Geller disse que os produtores não precisam se preocupar e que a política do Ministério da Agricultura é fomentar a produção e proteger o produtor nacional. “Que não se politize, tenha cautela. O produtor pode ficar muito tranquilo. Esse é um assunto mundial, o preço que está aqui não é a importação que vai mudar, porque é globalizado, nós importamos e exportamos”, reforçou.
O deputado Pedro Lupion (PP-RS), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), disse que a autorização para compra de até 1 milhão de toneladas de arroz importado e a venda do cereal para o varejo a preços subsidiados em embalagens com a logomarca do governo federal é uma medida “extremamente politiqueira e oportunista”.
O parlamentar disse que mais de 80% da safra gaúcha de arroz já estava colhida e que não haverá prejuízos nesta temporada, tampouco desabastecimento. Ele afirmou ainda que os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) já mostravam a redução no preço pago pelo consumidor, outro fator que vai contra a ação adotada pelo governo, segundo ele.
Integrantes da FPA apresentaram emendas à Medida Provisória 1.224/2024, que abriu crédito e autorizou a importação, para garantir que seja dada preferência pela Conab para compra de arroz nacional nos leilões. A bancada questiona também a qualidade do cereal que será importado e distribuídos às redes de supermercados e varejo.
“O arroz Basmati da Ásia é um arroz que não condiz com a qualidade e as especificações do produto brasileiro. O controle sanitário desse tipo inexiste, tanto que na própria MP fala que não se aplica o controle sanitário utilizado na produção de arroz brasileiro para importação desse arroz“, disse Lupion a jornalistas nesta terça-feira.
“Estão dando arroz de quinta categoria para a população para poder fazer política e colocar a marca do governo em um pacote no supermercado. É um verdadeiro absurdo, um acinte e nós estamos buscando garantias dentro das emendas para que o produtor rural não seja prejudicado nem a população que precisa consumir produtos de qualidade”, apontou.
Ele disse que a bancada não vai trabalhar para derrubar a MP, mas para aprovar a emenda que protege o setor produtivo nacional. “Nós exigimos e vamos fazer de tudo para que seja aprovada nossa emenda que exige a compra do arroz brasileiro antes dessa importação. Ou seja, se o governo quer comprar cereal para botar preço subsidiado, que o faça com arroz dos produtores rurais brasileiros que já estão prejudicados por causa da seca, a produção do Rio Grande do Sul está com três safras de defasagem, e aquele produtor que não foi atingido pela enchente vai morrer na mão desse governo que trabalha contra o nosso setor o tempo inteirinho”, destacou.
O diretor-técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi, reforçou a tentativa da entidade de barrar a compra de arroz importado por meio da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal (STF).
“O problema não é oferta do produto, foi uma questão pontual no Rio Grande do Sul, logo no início da enchente, que não conseguiu tirar nota [fiscal] e ter logística adequada, mas não havia necessidade de haver importação de 1 milhão de toneladas de arroz (…) não há nada que leve o país a uma compra como essa”, completou.
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