O Brasil poderá deixar de obter uma receita de cerca de US$ 3 bilhões com as exportações de carne bovina que não conseguirem entrar na China por causa da nova política do país de tarifas e cotas de importação do produto. Esta é a estimativa preliminar de Paulo Mustefaga, presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo).
Nesta quarta-feira (31/12), a China comunicou que vai estabelecer uma cota de 1,1 milhão de toneladas ao ano para a importação de carne bovina do Brasil, com tarifa de 55% sobre o volume que exceder esse limite. Também foram estabelecidas cotas isentas desta tarifa para outros grandes fornecedores de carne bovina para o mercado chinês.
Para 2025, o setor estima que o Brasil exportará 1,7 milhão de toneladas de carne bovina para a China. Até novembro, as exportações para o mercado chinês alcançaram 1,5 milhão de toneladas e renderam US$ 8 bilhões.
Mustefaga evitou cravar que a tarifa inviabilizará as exportações brasileiras para além da cota estabelecida, mas reconheceu que o percentual de 55% dificulta bastante o acesso ao mercado chinês nas atuais condições de mercado. “Uma tarifa de 55%, de fato, pode inviabilizar a exportação de qualquer volume fora da cota”, afirmou.
Uma limitação das exportações brasileiras a 1,1 milhão de toneladas representaria um retorno do ritmo de exportações anterior a 2022. A partir daquele ano, os embarques brasileiros de carne bovina para a China superaram a marca de 1 milhão de toneladas anuais.
Para Alcides Torres, sócio da Scot Consultoria, a cota de 1,1 milhão de toneladas é mais severa com o Brasil na comparação com seus principais concorrentes. “Nessa manifestação da China, a Argentina e o Uruguai ficam com um bom volume em relação ao rebanho que eles têm. Podemos dizer até que é um estímulo à produção argentina”, comentou Torres. A cota para a Argentina foi de 510 mil toneladas, e para o Uruguai, de 310 mil toneladas.
Outra preocupação do setor é com a distribuição das cotas. Há dúvidas em relação a qual país ficará responsável pela distribuição das cotas e quais critérios serão usados. “Pode ser um critério que, por exemplo, vá favorecer grandes grupos. E tem que ser um critério isonômico”, defende Mustefaga.
De acordo com Fernando Iglesias, coordenador de Mercados da Safras & Mercado, há outras medidas aventadas pelas autoridades chinesas que ainda não foram divulgadas e que podem afetar o setor. Elas envolveriam, por exemplo, a redução do número de frigoríficos habilitados e a redução das linhas de crédito para as empresas importadoras de carne. “Tudo isso estava no escopo dessas políticas chinesas de estimular a produção local”, afirmou.
Com isso, a partir de agora, a expectativa é de que as previsões de exportação para o Brasil em 2026 sejam revistas. “Se a China mantivesse o ritmo de compras desse ano, o Brasil iria bater recorde de exportação ano que vem. Mas não deve ser o caso, então, complica um pouquinho o cenário”, completou Iglesias.







