No mesmo embalo da inadimplência, os pedidos de recuperação judicial no campo continuaram acelerados em 2025, afetando o humor do mercado privado para liberação de crédito ao setor agropecuário e fomentando debates sobre o uso indiscriminado do mecanismo pelos agricultores.
Carlos Aguiar, diretor de agronegócios do Santander, viu o número de recuperações judiciais aumentar em 2025 na comparação com 2024 na carteira de agronegócios do banco. O movimento nubla o cenário para financiamento ao setor.
“O mercado realmente mudou de vez, isso estragou o humor do mercado um pouco. Para 2026, não estou pessimista nem otimista, mas enquanto as recuperações judiciais não se estabilizarem vai ser bem difícil o mercado melhorar”, diz.
No terceiro trimestre deste ano, os pedidos de recuperação judicial de produtores rurais subiram 147% em relação ao mesmo período de 2024, com 628 novas solicitações à Justiça. No acumulado até setembro, foram 1.582 processos.
Segundo Aguiar, a parte mais “estressada” da carteira, que concentra parcela significativa do endividamento, é um complicador. “Não consigo dizer quantas recuperações judiciais haverá para frente. Quem quiser refinanciar, o banco está aberto, mas qual percentual vai pedir recuperação? Essa é a parte que não controlo”, diz.
Ele ressalta que muitos casos no mercado, de dívidas “menores”, podem ser solucionados com a negociação bilateral com os bancos. “Se o produtor procurar a instituição, ele consegue renegociar. Todo mundo quer resolver o problema para que o cliente volte saudável para a carteira”, afirma.
Sem controle sobre as recuperações judiciais e com impacto direto nas provisões contábeis, a opção é executar as dívidas de quem escolhe esse caminho, diz Aguiar. “Estamos executando quem não quer conversar, espera solução milagrosa ou pede recuperação judicial”, afirma.
Mas não existe solução imediata. A execução de uma hipoteca tem demorado até cinco anos. No caso da alienação fiduciária, instrumento mais rápido e que tem sido nova opção para os bancos, o prazo saltou de 60 dias para um ano.
No Bradesco, como a carteira é mais concentrada na pecuária, o impacto das recuperações judiciais tem sido um pouco menor e ainda é “administrável”. Mesmo assim, o tema preocupa o diretor de agronegócios, Roberto França. “Perdemos o controle desse negócio e fica muito difícil negociar”, admite.
Produtores que aumentaram áreas com arrendamento em anos de bonança e recorreram a crédito mais caro, a custo de mercado, para girar a safra, são o perfil preferido da “indústria” de recuperação judicial, dizem os executivos. “É uma solução de curto prazo, mas tira o produtor da atividade”, aponta França.
Ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Fazenda e consultor da Sapeba Agroambiental, Rogério Boueri diz que o entendimento dos tribunais tem dificultado a vida dos fornecedores de crédito ao setor. “As instituições financeiras estão preocupadas, pois os juízes estão dando uma série de privilégios para devedores, o que está assustando os credores”, avalia.






