Mandioca, macaxeira, aipim: seja qual for o nome, a raiz que é um alimento tradicional dos brasileiros está “ganhando terreno” no país, com uma produção que deve crescer quase 8% em 2025. No entanto, esse aumento de oferta preocupa os produtores, que têm visto os preços em queda e a rentabilidade reduzida.
Em Diamante do Norte, no noroeste do Paraná, o produtor André Mataruco, que cultiva uma área de aproximadamente 200 hectares, lamenta as perdas financeiras com a cultura. “Calculo em torno de R$ 8 mil por hectare de prejuízo nesta safra”, comenta.
Mataruco explica que a rentabilidade para quem produz a raiz envolve a quantidade colhida, o rendimento industrial (amido produzido) e o preço determinado pela demanda do mercado. “A flutuação é muito alta, é muito difícil acertar os três fatores”, acrescenta. Ele destaca que, mesmo a produtividade alta não garante um valor que pague o custo fixo da lavoura.
Na área de Mataruco, a produtividade gira em torno de 80 toneladas por hectare, volume bem acima da média estadual de 28 toneladas por hectare. Segundo ele, o resultado é atribuído à tecnologia na propriedade, com foco na agricultura regenerativa.
“Adotamos estratégias para nos tornar mais competitivos no setor, com máquinas agrícolas conectadas, projetos de linha, pulverização localizada e em taxa variável, além de análises setoriais e programas de interpretação e armazenamento de dados”, relata. O sistema de rotação de culturas com a soja e as plantas de cobertura contribuem para melhorar as condições do solo e diminuir a incidência de doenças na plantação.
O produtor Rodolfo Luís Gabbiatti, de Planaltina do Paraná, na mesma região, também contabiliza os prejuízos deste ano. “Em torno de R$ 4 mil a R$ 6 mil por hectare”, acredita. Ele lembra que, em tempos de preços mais favoráveis, chegou a receber R$ 2 pela grama de amido. Já neste ano, os preços vêm registrando queda desde janeiro, com redução mais acentuada nos últimos três meses, chegando a receber R$ 0,60 por grama.
Com cerca de 60 hectares de cultivo, também com foco na agricultura sustentável e regenerativa, Gabbiatti faz a rotação de culturas na área com a pecuária e defende maior diálogo com a indústria e a definição de um preço-base para os produtores. “Hoje investimos 100% às cegas”, lamenta.
João Zil Goulart Júnior cultiva mandioca em 290 hectares divididos em duas áreas localizadas em Iporã e Francisco Alves, no Noroeste paranaense. Parceiro da cooperativa C. Vale, ele avalia que os preços estão em um patamar suficiente para sanar as contas, mas enfatiza que não há rentabilidade para investimentos maiores.
“A mandioca é uma cultura que está mais tecnificada, porém, com preços baixos fica difícil até custear a produção”, afirma.
Goulart Júnior observa que a flutuação dos preços vem ocorrendo desde 2023 e que a perspectiva para 2026 é de um cenário ainda pior. “Esperamos uma boa produtividade, mas os preços baixos, e recuando cada vez mais, podem tornar a atividade inviável”, adverte. Os produtores também relataram perdas causadas por pragas e doenças como a mosca-branca e a broca-das-raízes.
Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostram que, entre 8 e 12 de dezembro, a média nominal a prazo da tonelada de mandioca para indústria foi de R$ 515,16 (R$ 0,8959 por grama de amido), queda de 2,94% em relação ao intervalo anterior e de 8,4% no acumulado das últimas quatro semanas – resultado da demanda enfraquecida neste período do ano.
Conforme o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Paraná, a mandioca de dois ciclos tem o custo de produção estimado, atualmente, em R$ 464,70 por tonelada.
Cenário para a cultura
Apesar das dificuldades no campo, a mandioca deve fechar 2025 com um cenário positivo. A produção nacional está estimada em 20,5 milhões de toneladas de raiz, um crescimento de 7,9% em comparação a 2024, conforme dados do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados em novembro. Já a produção de fécula (amido puro extraído da mandioca) deve ficar entre 740 mil e 742 mil toneladas, segundo o Cepea.
O pesquisador da área de mandioca e derivados do Cepea, Fábio Isaías Felipe, comenta que deve ser registrada leve queda na produção de fécula em relação a 2024, quando o país chegou ao número recorde de 745 mil toneladas. Os dados finais de 2025 devem ser divulgados em meados de março. “A produção para fécula deve se manter muito próximo a isso, o que é bastante expressivo”, considera.
A produção de mandioca chegou a 19 milhões de toneladas em 2024, com o Pará na liderança do ranking, seguido por Paraná e Bahia. A cultura atingiu 1,2 milhão de hectares de área colhida no país, gerando um Valor de Produção nacional de R$ 18,1 milhões. Já a produção de fécula tem o Paraná na liderança, com 65,6% do processamento em 2024, seguido pelo Mato Grosso do Sul (21,3%) e São Paulo (9,7%), conforme levantamento do Cepea.
“A mandioca é uma cultura muito importante para o Brasil, não só pela questão nutricional da população de renda baixa, como também por ser um produto que vai muito além da fécula, com mais de 1.500 aplicações, incluindo o uso como matéria-prima industrial”, analisa.
O setor de massas, biscoitos e panificação absorveu 26,92% da fécula de mandioca produzida em 2024. No entanto, o produto também foi direcionado a frigoríficos (6,51%) e às indústrias de papel e papelão (4,97%) e química e petrolífera (1,28%), mostram dados do Cepea e da Associação Brasileira dos Produtores de Amido (Abam).
Felipe evidencia ainda a importância da pesquisa e da busca por novos mercados para a evolução da cadeia produtiva da mandioca e os segmentos de produção de fécula, amidos modificados e de farinha. “Ainda há muito o que se avançar em termos de crescimento de produção, sobretudo via produtividade, por meio de variedades mais resistentes, adaptadas, junto à melhoria de processos dentro da porteira”, observa.
Além do crescimento estimado da produção de mandioca em 2025, também estão projetados no LSPA aumentos de 4,9% na área a ser colhida, que pode passar para 1,3 milhão de hectares, e de 2,9% no rendimento médio, que deve chegar a 15,9 mil quilos por hectare.






