As secas cada vez mais frequentes nas regiões de produção agrícola, reflexos de mudanças no clima, têm incentivado os produtores a buscar a irrigação como estratégia de mitigação de risco e garantia de produtividade. Entretanto, a rentabilidade baixa — sobretudo nos preços dos grãos — , os juros altos e as condições de crédito mais restritas podem limitar os negócios no setor.
Cristiano Del Nero, presidente da Câmara Setorial de Equipamentos de Irrigação (CSEI) da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), afirma que os cenários são distintos para as indústrias de irrigação por gotejamento e as de pivô central. No primeiro caso, as culturas atendidas são principalmente frutas e café e no segundo caso, grãos.
“O faturamento do setor deve ficar estável no segmento de irrigação por pivô em 2025, e cresce em torno de 15% no gotejamento. Mas 2026 deve ser um ano mais difícil. No gotejamento, prevemos diminuição ou estabilidade no melhor dos casos, enquanto para o pivô esperamos queda de 5%”, estima o executivo, que também é vice-presidente de Agricultura da Valmont Brasil.
Na avaliação de Del Nero, os agricultores, em geral, entenderam a importância da irrigação e veem esse tipo de investimento como um “seguro” contra os impactos das mudanças climáticas.
Ao mesmo tempo, os preços das commodities não reagiram. Embora culturas como o café estejam com valores mais altos, os grãos representam cerca de 60% das áreas irrigadas no Brasil — patamar que chega a 80% no segmento de pivô. Além disso, os bancos passaram a ficar mais criteriosos na liberação de crédito, dado o avanço nas taxas de inadimplência do agronegócio.
“O mercado, como um todo, tem muitas linhas de financiamento, mas poucos clientes aptos, do ponto de vista dos bancos, para acessar esse financiamento”, diz Del Nero.
Segundo ele, o setor de irrigação vem tentando mostrar aos bancos que irrigar reduz o risco de crédito do produtor rural, pois contribui para a produtividade da lavoura. Assim, o agricultor que adota a ferramenta deveria ter juros mais baixos, defende.
Novas áreas
Além da frequência maior de secas, a migração de culturas para outras regiões dentro do Brasil também tem estimulado investimentos em irrigação por produtores. Isso contribuiu para o crescimento dos negócios da israelense Netafim, líder no segmento de irrigação por gotejamento. A empresa deve fechar 2025 com faturamento 22% acima do ano passado e espera avançar entre 12% e 15% em 2026.
Em entrevista ao Valor, o CEO da Netafim Brasil, Ricardo Almeida, diz, sem revelar valores, que 2025 já foi muito positivo para a companhia, e os fundamentos tendem a permanecer ao longo do novo ano. “Em 2024, problemas climáticos muito fortes provocaram uma virada de chave por parte do agricultor”, observa o executivo.
Um dos gatilhos para crescimento da empresa é a expansão da citricultura para fora do Estado de São Paulo, num movimento para “fugir” do greening, doença bacteriana que tem como vetor o inseto psilídeo . “Vemos a laranja indo para Mato Grosso do Sul, Goiás, regiões de clima seco onde o plantio já nasce com irrigação”.
O mesmo acontece com o cacau que, segundo Almeida, avança para áreas de Cerrado no centro da Bahia, norte de Minas Gerais e regiões em Tocantins, sul do Pará e noroeste de São Paulo, onde a irrigação é quase que uma necessidade. O café foi outro motor de avanço do mercado de gotejamento, devido à alta na rentabilidade.
“Obviamente a Selic [taxa básica de juros] de 15% joga contra os investimentos, mas as cadeias produtivas têm se virado com recursos próprios, operações de barter e recursos de bancos privados”, diz Almeida.
Crédito ao produtor
No mercado de pivô central, o Co-CEO da Bauer do Brasil e diretor global de vendas e marketing do Grupo Bauer, Rodrigo Parada, conta que, num cenário menos positivo para os grãos, a alternativa encontrada pela companhia foi ampliar os financiamentos aos produtores.
“A primeira coisa que a gente apostou foi no financiamento em dólar e a segunda foi financiar não só o grande produtor, mas os pequenos e médios também”, afirma. Com isso, a expectativa da empresa é fechar este ano com faturamento de 5% a 10% maior.
Assim como Del Nero, Parada tem uma perspectiva mais conservadora para 2026 por ser ano eleitoral, e projeta estabilidade para os resultados da empresa.






