Produtores reforçaram as críticas à iniciativa do governo de importar um milhão de toneladas de arroz, na tentativa de reduzir os efeitos das enchentes no Rio Grande do Sul sobre o mercado. Lideranças da cadeia produtiva estiveram na reunião da Câmara Setorial do Arroz do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), em Brasília, nesta quarta-feira (22/5).
“Um milhão de toneladas é arroz demais. Um milhão de toneladas entrando de forma descontrolada, não sabemos qual é a validade desse arroz. E se, de repente, ficar para o ano que vem nos estoques da Conab [Companhia Nacional de Abastecimento], prejudicando ainda mais a próxima safra?”, questionou o presidente da Câmara Setorial, Henrique Dornelles.
Durante o encontro, os rizicultores se disseram indignados, alegando não terem sido consultados no processo que levou à decisão do governo. “Muito deselegante, trazendo insegurança para nossas famílias, para produtores que perderam tudo. Uma medida impensada e até descabida”, protestou Dornelles.
A importação de arroz deverá ser feita pela Companhia Nacional de Abastecimento. O governo federal chegou a publicar o edital, mas, posteriormente, suspendeu o processo, sem detalhar os motivos. Ao mesmo tempo, decidiu zerar a Tarifa Externa Comum (TEC) para o arroz de países de fora do Mercosul, sob a alegação de que os preços entre os fornecedores do bloco aumentaram logo depois do Brasil manifestar a intenção de compra do cereal.
Os rizicultores pretendem entregar um ofício ao Mapa, em reunião ainda a ser agendada com o ministro e representante da Conab. O objetivo é tentar barrar a importação antes da publicação de um novo edital.
No governo, a posição é de importar arroz. Também nesta quarta-feira, antes de entrar em uma audiência na Câmara dos Deputados, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, prometeu retomar “em breve” a realização do certame.
Fávaro, em particular, também foi alvo de críticas de lideranças de produtores de arroz na reunião da Câmara Setorial. “O ministro Fávaro deve ser ministro da Indústria, porque acatou medidas ouvindo a indústria, e não os agricultores”, disse Dornelles.
Ainda durante o encontro em Brasília, os agricultores manifestaram preocupações com a infraestrutura no Rio Grande do Sul, como o acesso a estradas para escoamento da produção e chegada de insumos como adubo. A avaliação é de que há risco de alta no frete para o produtor. Ressaltaram também a situação da armazenagem, com silos atingidos afetando os cereais já colhidos.
Segundo Luiz Fernando Flores de Siqueira, do comitê gestor do Instituto Rio Grandense do Arroz em Eldorado do Sul, quatro silos foram comprometidos e, na região central, 122 armazéns de 33 municípios. O Instituto estima que 43 mil toneladas de arroz foram comprometidas.
Outro ponto de discussão foi o seguro agrícola. Diego Melo de Almeida, Coordenador-Geral de Seguro Rural da Secretaria de Política Agrícola, afirmou que “a demanda da subvenção do seguro é bem maior que a oferta que temos de orçamento e, ao longo do exercício, a despesa pode ser contingenciada”.
Segundo relatos, há casos de produtores que adquirem as apólices, mas não são contemplados pela subvenção. Almeida recomendou que os agricultores se antecipem. “A concentração no sul não está ajudando no equilíbrio da subvenção rural”, afirmou.
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