O Brasil hoje conta com cerca de 56 milhões de hectares de áreas já degradadas, utilizadas majoritariamente como pastos pela agropecuária. Nesse contexto, o estudo “Biocombustíveis no Brasil: alinhando transição energética e uso da terra para um país carbono negativo” aponta que, com o uso de 20 a 35 milhões de hectares de área degradada para biocombustíveis, o país pode dobrar a capacidade de produção nos próximos 25 anos.
Produzido pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), com o apoio do Grupo de Trabalho Clima e Energia do Observatório do Clima, a pesquisa indica o potencial de crescimento do país na questão dos biocombustíveis, que hoje é o segundo maior produtor do mundo, atrás apenas dos EUA.
“O Brasil é um expoente em termos globais na participação de biocombustíveis. Enquanto no resto do mundo, em média, cerca de 4% do setor de transportes, por exemplo, utiliza biocombustíveis; no Brasil, só a gasolina a gente já compra com 30% de etanol”, explica Felipe Barcellos, principal autor do estudo.
Na avaliação do pesquisador, o aumento da produção de biocombustíveis, além do potencial econômico, abre novas oportunidades de desenvolvimento científico e de transição energética aliadas ao cuidado com o uso do solo.
Como exemplo, ele cita o programa Caminho Verde Brasil, do Ministério da Agricultura e Pecuária, que visa a impulsionar a recuperação ambiental e a produtividade do setor agropecuário por meio da restauração de áreas degradadas e da promoção de práticas sustentáveis.
“É preciso fazer um cronograma coerente de aumento dessas porcentagens até chegarmos a 100% de biocombustíveis para usos, por exemplo, nos transportes”, pondera.
“Também podemos investir na construção de biorrefinarias no país, que é uma maneira de refinar os óleos vegetais ou a energia vegetal para combustíveis mais avançados do que esse que nós temos hoje, que é o caso do diesel verde”, pontua Barcellos.
Cenários
O estudo do IEMA traça diversos cenários para a utilização da área de pasto degradado, passando pelo etanol de cana-de-açúcar, atual foco do setor de biocombustível, agregando a macaúba para produção de biodiesel, diesel verde e do combustível sustentável de aviação (SAF), além de produtos com soja e milho.
Ainda conforme Felipe Barcellos, o crescimento do biocombustível por si só é apenas um ponto da transição energética necessária. Para ele, outras medidas são centrais nesse quadro. “É importante diminuir a demanda por combustíveis fósseis.”
“Precisamos incentivar o transporte coletivo, que utiliza menos combustível por pessoa transportada e, com isso, emite menos, mas também utilizar outros modos mais eficientes como a ferrovia, a hidrovia. Sempre cuidando para que outros impactos ambientais não ocorram”, afirma.






                
